sexta-feira, 17 de novembro de 2017

ESPORTE - SUPERAÇÃO

SUPERAÇÃO

Paulo Emílio Gomes Dias: “Deixei o alcoolismo pela natação. Minha meta é o triatlo”.

Em um belo dia percebi que meu cotidiano já estava praticamente esgotado e não me valia mais. “Meu corpo e minhas relações diziam claramente isso para mim: era hora de mudar de deixar a bebida, que me acompanhou desde os 13 anos de idade. Os excessos da vida urbana não me levariam longe em nenhum aspecto que considero importante, muito menos com a qualidade que um dia, jovem, esbanjei e quase a destruí”.


Esta declaração é de Paulo Emilio, um senhor de 64 anos, que há dois anos largou a bebida e procurou uma piscina para nadar. “Fui usuário assíduo de álcool, cigarro. Até hoje eu não sei como aconteceu, em um dia estava bebendo, no outro, estava na piscina nadando e até hoje estou conquistando dia a dia minhas vitórias sobre o alcoolismo, e nas piscinas, as medalhas da vitória na natação. Como sou daqueles que não sabe mudar apenas um pouco, dar uma repaginada, maquiar a realidade, senti que a transformação deveria ser geral e intensa. E tracei a meta de chegar ao Triatlo, já estou praticando a maratona e a próxima etapa é o ciclismo”.


Mais que atleta, um exemplo de superação. O nadador máster, 64 anos de idade, dezenas de medalhas nas piscinas do mundo, pois já competiu, regional, nacional e internacionalmente. Contudo a maior vitória do atleta não são as medalhas exibidas no peito, mas a superação conquistada após 28 anos de alcoolismo, vencidos através da prática do esporte.
“Hoje sou reconhecido, sou procurado pelas minhas conquistas nas piscinas, porém sempre começo contando o que eu era, ‘nada’, uma cara desconhecido, que quando pedia uma água recebia a recomendação de me afastar. O esporte me mostrou que basta querer e tudo muda. Hoje estamos aí medalhando, conhecendo o Brasil e o Brasil nos conhecendo, estou a caminho do mundial. Eu não tinha nome. Hoje estou praticando esporte, não é somente pelas medalhas, é pelas amizades, pela superação e pela minha integração na sociedade que o esporte está me oportunando”.
Emílio Dias vai competir na categoria +60 (Foto Reprodução-Facebook)

Macapaense, morador do centro antigo da capital amapaense, foi um jovem que estudou as séries iniciais na Escola Barão do Rio Branco e concluiu no Ginásio de Macapá (GM, hoje EE Antônio Cordeiro Pontes), devido na época, a falta de opções para as crianças e jovens, a molecada tinha no tabaco e na cachaça a saída para o divertimento. “Nunca pratiquei esporte na infância e juventude, a única coisa que aprendi foi beber e a fumar, devido à falta de opção, a molecada corria para pescar na orla, antiga Beira da Praia, e no Igarapé das Mulheres e a cachaça estava presente. O cigarro veio devido ao meu pai fumar e eu passei a surripiar cigarro dele e me viciei”.
Foram 28 anos voltados para a bebida e o tabagismo que trouxe problemas sérios para sua vida e profissionalmente. “Desde os meus 13 anos a bebida liderava minhas ações, fui casado, separei, tenho uma filha e uma neta, hoje vou vivendo”.

Mas a lenta destruição do alcoolismo não o estabilizava em empregos, trabalhou na Casa Líbia tornou-se servidor público federal desde da época do ex-Território Federal do Amapá. “Sou servidor federal, mas minha carreira no serviço público não foi brilhante, faltava, levei muitas punições, a maioria dos meus chefes segurava minha ondas de alcoolismo. Com a criação do Estado do Amapá aconteceu as transições e fui alocado na Polícia Rodoviária Federal (PRF)”.
Esta nódoa (o alcoolismo) na vida de Paulo Emilio vem desaparecendo com os sucesso alcançadas pela nova oportunidade que a vida está lhe dando e isso está vindo pelo esporte. Hoje essa superação causa espanto e admiração até nos especialistas médicos. A natação foi a primeira opção de Emilio, devido ser moleque nascido e criado a beira do gigante Rio Amazonas e a primeira coisa que aprendem é nadar.
“Comecei com algumas braçadas no Centro Didático Parque Aquático Capitão Euclides Rodrigues, popularmente conhecido por Piscina Olímpica, hoje, nado 1.500 em piscinas a 10 mil metros, no Rio Amazonas, com 64 anos”.
Mas o esporte, e especificamente a natação, fez Paulo Emilio voltar ao banco da escola, aos 58 anos desta vez foi a Universidade, onde concluiu seus estudos como Bacharel em Turismo. “Quando comecei a nadar na Piscina Olímpica fui observado por uns cidadãos que ali treinavam a natação máster e que me acolheram e passei a compor a Associação Pororoca Máster de Natação Macapá/Amapá em 2015, onde estou até hoje e a partir daí passei a competir, em 2016”.
O espectro do alcoolismo ainda ronda a vida de Paulo Emílio, os próprios amigos ainda não absorveram sua reabilitação o tratam com desdém. “Neste ano e meio de competição já conquistei 76 medalhas entre ouro, prata e bronze, mas não as diferenciais, são vitorias regionais, nacionais e internacionais. Hoje sou considerado atleta máster nacional, pois sou confederado na Confederação Brasileira de Desporto, na Associação Brasileira Máster de Natação e na Federação Internacional Máster de Natação”.
Emilio conta que hoje tem pressa, pois já perdeu muito tempo precioso de sua vida. Essa pressa, porém, é organizada, hoje é o único amapaense a fazer o Circuito Internacional de Natação e quer mais. “Quero receber orientações técnicas de alto nível, pois recebi elogios de técnicos de outras equipes de natação que me disseram se eu tivesse um acompanhamento de alto nível, estarei dentre os melhores do mundo na minha categoria. Aqui não tenho um técnico exclusivo”.
A estrela de Paulo Emílio começou a brilhas a três anos, e começa a resplandecer, os sucessos sucessivos, tem trazidos convites para disputar eventos por grandes clubes nacionais. “Eu recebi o convite do Botafogo para representa-lo em Curitiba (PR). Tem o Flamengo, o Clube do Remos. Pois, sou o 5º melhor do Brasil nos 800 metros que é meu forte. E isso está fazendo crescer o interesse por mim”.
Um dos problemas de Paulo Emílio é a falta de patrocínio e apoio do poder público. “Tenho levantado a Bandeira do Amapá, quando subo nos pódios, mas não tenho apoio do governo, nem do município, faço isso porque sou amapaense. O Remo me quer, mais que erga a bandeira do Pará, não vou aceitar. Tenho o patrocinado do Sindicato dos Servidores Públicos Federais Civis no Estado do Amapá (SINDSEP), da minha equipe Pororoca”.
Um os projetos de Paulo Emílio, para retribuir esse milagre de estar conquistando sucesso, é de levar sua mensagem e testemunho nas escolas do Estado do Amapá. “Pretendo comprar uma caixa de som portátil, reunir minhas medalhas e visitar escolas e de sala em sala, conversar com a garotada e mostrar a importância do esporte para a vida de cada uma delas, que devem ser afastar das drogas, da bebida, do cigarro e escolherem o esporte como meta de vida e de cidadania”.
      
Água, pista e pedal.


O novo desafio de Emílio é chegar ao Triatlo, está conseguindo superar cada centímetro desse novo caminho. “Comecei na natação devagar e hoje estou reconhecido nos 800 metros, agora comecei a disputar maratonas e um mês já tenho nove medalhas, comecei este ano. Já domino a água, comecei com 100 metros e hoje treino 3.000, toda a tarde faço isso. Agora na rua (corrida de rua) já domino 200 metros e pretendo chegar a mais. Depois vou partir para a bicicleta, mas isso vai acontecer rapidamente, é tudo questão de disciplina e de querer”.

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