SUPERAÇÃO
Paulo Emílio Gomes Dias: “Deixei o alcoolismo pela
natação. Minha meta é o triatlo”.
Em um belo dia percebi que meu cotidiano já
estava praticamente esgotado e não me valia mais. “Meu corpo e minhas relações
diziam claramente isso para mim: era hora de mudar de deixar a bebida, que me
acompanhou desde os 13 anos de idade. Os excessos da vida urbana não me
levariam longe em nenhum aspecto que considero importante, muito menos com a
qualidade que um dia, jovem, esbanjei e quase a destruí”.
Esta declaração é de Paulo Emilio, um senhor
de 64 anos, que há dois anos largou a bebida e procurou uma piscina para nadar.
“Fui usuário assíduo de álcool, cigarro. Até hoje eu não sei como aconteceu, em
um dia estava bebendo, no outro, estava na piscina nadando e até hoje estou conquistando
dia a dia minhas vitórias sobre o alcoolismo, e nas piscinas, as medalhas da
vitória na natação. Como sou daqueles que não sabe mudar apenas um pouco, dar
uma repaginada, maquiar a realidade, senti que a transformação deveria ser
geral e intensa. E tracei a meta de chegar ao Triatlo, já estou praticando a
maratona e a próxima etapa é o ciclismo”.
Mais que atleta, um exemplo de superação. O
nadador máster, 64 anos de idade, dezenas de medalhas nas piscinas do mundo,
pois já competiu, regional, nacional e internacionalmente. Contudo a maior
vitória do atleta não são as medalhas exibidas no peito, mas a superação
conquistada após 28 anos de alcoolismo, vencidos através da prática do esporte.
“Hoje sou reconhecido, sou procurado pelas
minhas conquistas nas piscinas, porém sempre começo contando o que eu era, ‘nada’,
uma cara desconhecido, que quando pedia uma água recebia a recomendação de me
afastar. O esporte me mostrou que basta querer e tudo muda. Hoje estamos aí
medalhando, conhecendo o Brasil e o Brasil nos conhecendo, estou a caminho do
mundial. Eu não tinha nome. Hoje estou praticando esporte, não é somente pelas
medalhas, é pelas amizades, pela superação e pela minha integração na sociedade
que o esporte está me oportunando”.
Emílio Dias vai competir na categoria +60 (Foto Reprodução-Facebook) |
Macapaense, morador do centro antigo da
capital amapaense, foi um jovem que estudou as séries iniciais na Escola Barão
do Rio Branco e concluiu no Ginásio de Macapá (GM, hoje EE Antônio Cordeiro Pontes),
devido na época, a falta de opções para as crianças e jovens, a molecada tinha
no tabaco e na cachaça a saída para o divertimento. “Nunca pratiquei esporte na
infância e juventude, a única coisa que aprendi foi beber e a fumar, devido à
falta de opção, a molecada corria para pescar na orla, antiga Beira da Praia, e
no Igarapé das Mulheres e a cachaça estava presente. O cigarro veio devido ao
meu pai fumar e eu passei a surripiar cigarro dele e me viciei”.
Foram 28 anos voltados para a bebida e o tabagismo
que trouxe problemas sérios para sua vida e profissionalmente. “Desde os meus
13 anos a bebida liderava minhas ações, fui casado, separei, tenho uma filha e
uma neta, hoje vou vivendo”.
Mas a lenta destruição do alcoolismo não o
estabilizava em empregos, trabalhou na Casa Líbia tornou-se servidor público
federal desde da época do ex-Território Federal do Amapá. “Sou servidor
federal, mas minha carreira no serviço público não foi brilhante, faltava,
levei muitas punições, a maioria dos meus chefes segurava minha ondas de
alcoolismo. Com a criação do Estado do Amapá aconteceu as transições e fui
alocado na Polícia Rodoviária Federal (PRF)”.
Esta nódoa (o alcoolismo) na vida de Paulo
Emilio vem desaparecendo com os sucesso alcançadas pela nova oportunidade que a
vida está lhe dando e isso está vindo pelo esporte. Hoje essa superação causa
espanto e admiração até nos especialistas médicos. A natação foi a primeira
opção de Emilio, devido ser moleque nascido e criado a beira do gigante Rio
Amazonas e a primeira coisa que aprendem é nadar.
“Comecei com algumas braçadas no Centro
Didático Parque Aquático Capitão Euclides Rodrigues, popularmente conhecido por
Piscina Olímpica, hoje, nado 1.500 em piscinas a 10 mil metros, no Rio
Amazonas, com 64 anos”.
Mas o esporte, e especificamente a natação,
fez Paulo Emilio voltar ao banco da escola, aos 58 anos desta vez foi a
Universidade, onde concluiu seus estudos como Bacharel em Turismo. “Quando comecei
a nadar na Piscina Olímpica fui observado por uns cidadãos que ali treinavam a
natação máster e que me acolheram e passei a compor a Associação Pororoca
Máster de Natação Macapá/Amapá em 2015, onde estou até hoje e a partir daí
passei a competir, em 2016”.
O espectro do alcoolismo ainda ronda a vida
de Paulo Emílio, os próprios amigos ainda não absorveram sua reabilitação o
tratam com desdém. “Neste ano e meio de competição já conquistei 76 medalhas
entre ouro, prata e bronze, mas não as diferenciais, são vitorias regionais,
nacionais e internacionais. Hoje sou considerado atleta máster nacional, pois
sou confederado na Confederação Brasileira de Desporto, na Associação
Brasileira Máster de Natação e na Federação Internacional Máster de Natação”.
Emilio conta que hoje tem pressa, pois já
perdeu muito tempo precioso de sua vida. Essa pressa, porém, é organizada, hoje
é o único amapaense a fazer o Circuito Internacional de Natação e quer mais.
“Quero receber orientações técnicas de alto nível, pois recebi elogios de
técnicos de outras equipes de natação que me disseram se eu tivesse um
acompanhamento de alto nível, estarei dentre os melhores do mundo na minha
categoria. Aqui não tenho um técnico exclusivo”.
A estrela de Paulo Emílio começou a brilhas a
três anos, e começa a resplandecer, os sucessos sucessivos, tem trazidos
convites para disputar eventos por grandes clubes nacionais. “Eu recebi o
convite do Botafogo para representa-lo em Curitiba (PR). Tem o Flamengo, o
Clube do Remos. Pois, sou o 5º melhor do Brasil nos 800 metros que é meu forte.
E isso está fazendo crescer o interesse por mim”.
Um dos problemas de Paulo Emílio é a falta de
patrocínio e apoio do poder público. “Tenho levantado a Bandeira do Amapá,
quando subo nos pódios, mas não tenho apoio do governo, nem do município, faço
isso porque sou amapaense. O Remo me quer, mais que erga a bandeira do Pará,
não vou aceitar. Tenho o patrocinado do Sindicato dos Servidores Públicos
Federais Civis no Estado do Amapá (SINDSEP), da minha equipe Pororoca”.
Um os projetos de Paulo Emílio, para
retribuir esse milagre de estar conquistando sucesso, é de levar sua mensagem e
testemunho nas escolas do Estado do Amapá. “Pretendo comprar uma caixa de som
portátil, reunir minhas medalhas e visitar escolas e de sala em sala, conversar
com a garotada e mostrar a importância do esporte para a vida de cada uma
delas, que devem ser afastar das drogas, da bebida, do cigarro e escolherem o
esporte como meta de vida e de cidadania”.
Água, pista e pedal.
O novo desafio de Emílio é chegar ao Triatlo,
está conseguindo superar cada centímetro desse novo caminho. “Comecei na
natação devagar e hoje estou reconhecido nos 800 metros, agora comecei a
disputar maratonas e um mês já tenho nove medalhas, comecei este ano. Já domino
a água, comecei com 100 metros e hoje treino 3.000, toda a tarde faço isso.
Agora na rua (corrida de rua) já domino 200 metros e pretendo chegar a mais.
Depois vou partir para a bicicleta, mas isso vai acontecer rapidamente, é tudo
questão de disciplina e de querer”.
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