sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

PIONEIRISMO


"Tínhamos o melhor hospital do Norte do país, o ensino de qualidade era o nosso. Essa era uma preocupação do Augusto Antunes com o trabalhador da Icomi.  Santana precisava de sua independência. Como distrito de Macapá, não cresceu nada e se hoje assim permanecesse, seria o caos, pois a própria Macapá está em uma situação sofrível".  Félix Ramalho, ex- deputado estadual e advogado










Reinaldo Coelho

O nosso pioneiro da semana mora em Santana há 38 anos. Paraense de Itaituba, aos 83 anos Felix Ramalho carrega uma linhagem política de grandes nomes do Pará: é filho de João Catete Barbosa de Amorim e de Raimunda de Almeida Ramalho, que apesar do pouco estudo traçou caminhos de sucesso para os filhos.

 O pai de Felix Ramalho era Taifeiro no navio Oiapoque, teve uma vida muito laboriosa, segundo lembra o filho. "O Amapá ainda pertencia ao estado do Pará e esse navio fazia linha para essa localidade. Em sua função o meu genitor foi ser assistente de dentista, tendo assim um conhecimento empírico da profissão, mas muito esforçado e interessado em crescer em todos os aspectos. E conseguiu", afirmou.


Em 1931 nasceu Felix Ramalho. Ele é terceiro filho do casal. "Logo meu pai foi para Belterra, ligada a Santarém. Em 1950, por não haver na localidade o ensino ginasial em escola pública, ele adquiriu um casebre em Santarém e ali se fixou. Meu pai montou um consultório dentário em casa e assim nos criou".


Naquela ocasião, Felix Ramalho passou a acompanhar os serviços do genitor e a aprender a arte de um protético. Aos 19 anos saiu de casa e foi procurar emprego. Conseguiu uma vaga no Departamento Estadual de Estrada e Rodagem (DEER/PA), em Monte Alegre. "Era um trabalho muito árduo, então resolvi montar um consultório. Foi quando conheci a família Melém, de origem libanesa".


Ramalho lembra que o casal Nagib e Josa Melém, avós de Paulo Melém, que reside e trabalha no Amapá, era uma família tradicional de Monte Alegre e com grande influência política e social na localidade, principalmente na já extinta Colônia Agrícola Nacional do Pará (CANP).


"Foram eles que me indicaram para a administração local e passei a servir como protético dentista por dois anos. Porém, a política entrou em minha vida e senti o peso da mão do poder. No retorno de Getúlio Vargas ao poder, em 1950, foi nomeado para a CANP o doutor Paulo de Menezes Bentes, que a transformou em seu curral eleitoral e obrigava os funcionários que tinham acesso à população a militar seu nome politicamente, eu, sendo contra, fui exonerado".

Chegada ao Amapá
Em 1952, com 32 anos e já casado com Maria do Céu de Souza Ramalho, nosso pioneiro chegou ao Amapá, então Território Federal. Em terras tucujus, o casal teve oito filhos. Hoje são 28 netos e 12 bisnetos.
"Meus filhos são todos amapaenses, eu aqui chegando fixei residência na Rua Mário Cruz, ao lado da Intendência Municipal, onde montei meu consultório dentário. Era prefeito de Macapá o famoso auto demissionário Zito Morais. Eu fui vizinho da família do poeta Isnard Lima".

Servidor público

Félix Ramalho foi contratado para o serviço público como servente, porém, ficou na função por pouco tempo, pois logo passou a atuar como inspetor escolar de disciplina através de concurso público, na gestão do então governador Coaracy Nunes. "Eu fui bedel por pouco tempo no Colégio Amapaense".


Ramalho terminou o segundo grau na Escola Técnica do Amapá, à época dirigida pelo tenente Charone. "Após isso resolvi cursar o ensino superior em Belém, e, por causa da qualidade do ensino, os amapaenses sempre alçavam as melhores pontuações nos vestibulares paraenses, tanto que fiz quatro faculdades [eu, doutor Adamor, Brasil, Cabral de Castro, Genesio, Jurandil e Rodolfo Juarez], sem precisar fazer preparatório". 


 Félix Ramalho conta que não foi fácil, pois precisou levar toda a família para o Pará. Na época, o casal já tinha oito filhos. "Durante um ano e meio foi difícil, porém, com a ajuda divina encontrei na capital paraense a professora Sol Canto, que era secretária de Educação do Estado. Sabendo da minha situação, ela me disponibilizou escolas para lecionar. Atuei em quatro delas [Paes de Carvalho, Lauro Sodré, Instituto de Educação do Pará e Floriano Peixoto] e durante a noite, estudava. Assim cursei as faculdades de Letras, Direito, História e Sociologia, que não terminei, pois já estava há quase dez anos estudando e tinha meu emprego no Amapá".


O emprego federal de Felix Ramalho dependia de sua situação escolar. "Quando tive de ir para Belém, não podia ficar sem o salário e então apelei ao governador Ivanhoé Gonlçaves Martins, pedindo licença com ou sem vencimento ou a exoneração, e ele optou pela obrigatoriedade de ser apresentado duas vezes ao ano o histórico escolar com as minhas médias e sem nenhuma nota vermelha, senão eu teria de voltar. Eu consegui me formar".

Magistério

 
Nosso pioneiro atuou no magistério amapaense no Ginásio de Macapá, Colégio Amapaense, Ieta e CCA, onde cursou secretariado. "Eu lecionava língua francesa e leis trabalhistas. Trabalhei no Augusto Antunes e estou há 38 anos em Santana".

O político



 
No fim da ditadura militar, mesmo carregando a veia política no sangue, Felix Ramalho custou a perceber que tinha vocação para a vida pública. Só em 1982, já com 51 anos, disputou sua primeira eleição. "Fui convidado para entrar no PMDB e me candidatar a vereador porque eu já era conhecido por muitos santanenses. Fui o quarto mais votado de Macapá. Tentei a vaga de deputado federal,
Como deputado constituinte presidiu a ALAP e tomou o juramento dos governador e vice eleitos Annibal Barcellos e Ronaldo Borges
mas não consegui. Consegui eleger-me deputado estadual constituinte e o primeiro a presidir a Assembleia Legislativa do Amapá, dando posse ao governador eleito Annibal Barcellos e ao seu vice, Ronaldo Borges. Hoje nem consta esse fato na história da Casa de Leis amapaense".

Félix Ramalho deputado constituinte, compôs a mesa diretora da ALAP com o presidente Nelson Salomão e o desembargador Doglas Evangelista, primeiro presidente do Tribunal de Justiça do Amapá

Sobre ter abandonado a política, Ramalho conta: "Deixei a política, pois ela tomou um rumo que não era o meu. E resolvi voltar a trabalhar naquilo que sabia e conhecia muito bem. Voltei a lecionar, a advogar. Meus filhos começaram a trabalhar e aqui quero destacar que nenhum deles foi criado na dependência de cargos públicos, a não ser meu emprego. Hoje estou aposentado pela idade e porque quis". 

A história na sua visão


Feliz Ramalho lembra Santana quando a exportação de manganês fazia circular dinheiro na região. "Tínhamos o melhor hospital do Norte do país, o ensino de qualidade era o nosso. Essa era uma preocupação do Augusto Antunes com o trabalhador da Icomi.  Santana precisava de sua independência. Como distrito de Macapá, não cresceu nada e se hoje assim permanecesse, seria o caos, pois a própria Macapá está em uma situação sofrível. Naquela época pertenciam ao município de Macapá, Porto Grande, Santana, Ferreira Gomes, Serra do Navio, imaginem tudo isso para um gestor hoje administrar. Graças a Deus Santana está crescendo lentamente, aos trancos, mais com suas próprias pernas".
Atualmente, Felix Ramalho curte a imensa biblioteca onde está sempre atualizado com os fatos que marcam o mundo. 


"Acompanho diariamente as notícias do mundo, através de canal de assinatura e TV aberta. Leio diariamente os jornais e revistas locais e nacionais. A minha preocupação é com os jovens que infelizmente estão caminhando em uma trilha sem volta: as drogas".

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