sexta-feira, 4 de outubro de 2013

"Continuamos nesses 70 anos do Amapá com uma economia do "contracheque". As empresas mineradoras que aí estão, não investem no Estado como a ICOMI fazia, e olha que hoje tem legislação que obriga a compensação pela retirada das nossas riquezas. O comércio que é o segundo empregador no Amapá, atua na base do salário mínimo e isso graças à Área de Livre Comercio de Macapá e Santana (ALCMS) que lhes deu esse fôlego. A renda do cidadão amapaense é de sobrevivência, recebe hoje e amanhã já compra no cartão ou no "fiado". Cosme Jucá de Lima, aposentado pela ICOMI


Em meados da década de 1940, começavam os preparativos para a instalação do primeiro projeto de exploração mineral e industrial na Amazônia. Este empreendimento relacionava-se com as diretrizes políticas, econômicas e estratégicas estabelecidas durante o Estado Novo para várias regiões do País, tidas como periféricas e atrasadas em relação aos centros dinâmicos da economia. Foi o caso da ICOMI no Amapá. Porém, na visão do nosso pioneiro da semana, Cosme Jucá Lima, que teve um único patrão, a ICOMI, isso não se concretizou. "A empresa fez sua parte e durante os cinquenta anos que aqui atuou implantou mecanismos modernos de gestão e social. Porém, os administradores do Amapá não capturaram e aplicaram para desenvolver o Estado que mantém seus cidadãos dependentes do salário governamental".


Cosme Jucá Lima é amapaense legítimo nascido no extremo Norte do Brasil e do Amapá. "Nasci em Cassiporé, município de Oiapoque. Meus pais foram Benedito Lima (carpinteiro) e Etelvina Jucá, (dona de casa), ambos cearenses. Com o falecimento de meu genitor, aos cinco anos de idade, migramos para o município de Santarém (PA) onde residia uma tia materna, e onde passei seis anos. Em 1950 retornamos para Macapá, capital do então Território Federal do Amapá", conta.

O retorno não foi fácil para a família. "Continuamos a tocar nossa vida aqui. Minha mãe, viúva, era costureira e produzia mosquiteiros para vender no comércio local, principalmente para a Indústria e Comercio de Minérios S/A (ICOMI), que estava se estabelecendo em Santana".
Os filhos contribuíam para a renda da família. "Além de estudarmos durante o dia, eu e meu irmão gêmeo, Damião, trabalhávamos no horário noturno, carregando tijolos na antiga olaria territorial. Nessa época, tínhamos 12 anos de idade, isso até 1956, quando comecei a trabalhar em uma loja de material esportivo, a Casa Olímpia".

Chegada a ICOMI

A vida de Cosme Jucá começou a mudar quando um amigo o levou até a ICOMI e logo começou a atuar no primeiro "degrau" da escada. "Em 1957 eu fui trabalhar na ICOMI, com a indicação de um amigo. Tinha, na época, 17 anos. Comecei como oficie boy, depois fui telefonista, operador de rádio, controle de trem, depois assumi a chefia de controle de tráfego da estrada de ferro do Amapá, administrada pela ICOMI. Fiquei até 1994, quando me aposentei. Em minha carreira profissional tive um patrão que foi a ICOMI".  
A trajetória dentro da empresa abrangeu todas as localidades onde ela atuava. "Durante o exercício das minhas funções na mineradora, atuei na Serra do Navio, Cupixi, Porto Platon, e por último voltei à sede da empresa, em Santana, onde me aposentei".

Crescimento e expansão
Inicio da construção da Vila Amazonas (Santana)


Cosme Lima acompanhou o desenvolvimento e o crescimento da mineradora e sua influência no Amapá, tanto nos costumes quanto na implantação de células que ajudaram na economia local, como o incentivo à agricultura comercial. "A empresa trouxe agricultores japoneses para implantar um setor hortifrutigranjeiro em Campo Verde, de onde ela abastecia os supermercados de Vila Amazonas e Serra do Navio, e depois, com o crescimento do Território do Amapá, ela foi se afastando do setor e passou a adquirir frutas e verduras direto dos produtores locais. Isso ajudou a alavancar o setor terciário amapaense".

Estrada de Ferro do Amapá

Estrada de Ferro do Amapá
Um dos orgulhos de Cosme é a famosa EFA, que ele viu ser construída e depois chefiou o tráfego de trens. "Tive a honra de acompanhar e ajudar a administrar a construção da Estrada de Ferro do Amapá, isso em 1957. Em janeiro de 1958 a ICOMI fez o primeiro embarque de minério de manganês, no Porto Flutuante de Santana, construído com a mais avançada tecnologia da época, pois o porto acompanhava o aumento e a baixa da maré, sem causar problemas nos grandes navios que vinham receber os minérios".

Vilas no meio da floresta
Vila de Serra do Navio

As vilas projetadas e posteriormente executadas permearam todas as prerrogativas para atender aos funcionários da empresa mineradora (ICOMI), o que a caracteriza como uma cidade empresa prevendo aspectos como equipamentos de educação e de pessoal docente; almoxarifados, de acordo com o consumo médio de alimentação; restaurantes refeitório e áreas recreativas; sistema de coleta de lixo; e infra-estrutura urbana adequada; domicílios procurando atender aos costumes da região local; e, dois fatores preponderantes: o meio ambiente e o meio econômico, sendo neste previsto o custo da manutenção.


A construção da Vila Amazonas e a de Serra do Navio, com a mais avançada arquitetura no meio da selva amazônica teve a ajuda de operários locais que revelaram extraordinária capacidade de adaptação ao novo trabalho e escalaram vários degraus acima e além dos níveis econômico e social em que viveram até então. Da noite para o dia, muitos que não tinham sequer remuneração regular, passaram a receber salários bem acima do salário mínimo regional. Cosme Jucá Lima estava lá, para hoje contar a história.

O atendimento social dado pela ICOMI era inseparável na Região Norte e Cosme relembra que o Hospital era de primeiro mundo e referência em todo o Brasil. "O Hospital de Santana e de Serra do Navio recebia especialistas de todas as áreas médicas e de todas as nacionalidades. O sistema hoteleiro implantado competiu com os melhores do mundo, possuía da piscina à sauna, salão de jogos, tipo cassino".

Casamento

Aos 34 anos Cosme Jucá Lima se casou. A união durou 36 anos. Dela nasceram duas filhas, Danielli Quintas, que é formada em Pedagogia e está cursando Direito, e Luana Quintas, formada em Letras. Ao se aposentar, após 36 anos de serviço, Cosme retornou para Macapá e fixou residência na Avenida Mendonça Junior, onde reside há 20 anos. "Hoje vivo tranquilo, pois comecei aos 12 anos a trabalhar. O corpo não pede mais esforço, fiz uma operação cardíaca e coloquei uma ponte de safena e uma mamária. Graças à competência e o respeito da ICOMI a seus funcionários tenho um salário adequado ao meu estilo de vida. Ela conveniou com a Caemi que pertencia ao holding dos Antunes, que complementava o salário dos aposentados, dando-lhes 100% o que o INSS dá somente 70%".
Cosme no Independente Esporte Clube
A visão do nosso pioneiro não é muito otimista com o crescimento do Amapá. "Continuamos nesses 70 anos do Amapá com uma economia do "contracheque". As empresas mineradoras que aí estão, não investem no Estado. O comércio, que é o segundo empregador no Amapá, atua na base do salário mínimo e isso graças a Área de Livre Comercio de Macapá e Santana (ALCMS) que lhes deu esse fôlego. A renda do cidadão amapaense é de sobrevivência, recebe hoje e amanhã já compra no cartão ou no "fiado". Eu aconselho aos jovens que estudem e procurem profissões que lhes garantem um futuro. Fujam das más companhias que lhes levam ao álcool e a droga que são o câncer da humanidade. Os pais orientem seus filhos e os ajudem com o apoio firme e coerente".

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