Mirrelle Rabelo e Manuelle Tavares
Em um mundo globalizado onde o tempo é precioso, o ser humano
tenta se adaptar a uma rotina agitada. Filhos, casa, trabalho e várias
atividades são realizadas no dia a dia. O problema com essa geração é querer
praticidade em tudo e cuidados importantes acabam sendo ignorados “sem querer”.
Os produtos industrializados ganham cada vez mais espaço no carrinho de compras
do brasileiro, comidas pré-prontas ou semi-cozidas que facilitam a vida de
qualquer um. Porém, tudo tem um preço. E numa alimentação inadequada quem paga
a conta é a saúde.
Foi o que ocorreu com a universitária Marly Pereira. Aos 30
anos, ela foi vítima de uma alimentação inadequada e sem orientação. Medindo
1,53m de altura, ela chegou a pesar 70kg. Junto com o peso, ganhou também
hipertensão e baixa autoestima. “Eu comia de tudo sem nenhuma restrição. Fiquei
com sobrepeso e hipertensão. Tudo isso afetou, também, meu psicológico. Fiquei
com a estima baixa, não gostava mais nem de sair de casa. Porque, o pior
momento era quando eu ia procurar uma roupa pra sair e nenhuma ficava boa”,
relembra Marly.
Atualmente, a jovem se adaptou a uma nova rotina. Há quase um
ano, decidiu fazer uma reeducação alimentar e aderiu também à prática de
exercícios físicos. “Com menos 10kg eu me sinto bem melhor. Sou mais feliz e,
principalmente, mais saudável. Mantenho uma rotina com alimentação equilibrada
pra nunca mais correr risco de ganhar sobrepeso”, frisou.
Sobrepeso e obesidade
Em 2015, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), realizou um levantamento apontando que 60% dos brasileiros, ou seja,
cerca de 82 milhões de pessoas apresentaram o índice de massa corporal (IMC)
igual ou maior do que 25 (sobrepeso ou obesidade). O estudo indicou uma
prevalência maior de excesso de peso no sexo feminino (58,2 %) do que no sexo
masculino (55,6%). Os dados anunciados pelo IBGE traduzem a urgência de se
pensar políticas públicas para uma alimentação adequada.
Os dados do IBGE também mostraram que a obesidade acometeu um
em cada cinco brasileiros de 18 anos ou mais em 2013 (20,8%), sendo que o
percentual é mais alto entre as mulheres (24,4% contra 16,8% dos homens). Em
dez anos, a obesidade entre mulheres de 20 anos ou mais passou de 14,0% em
2003, para 25,2% em 2013, segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF).
Estas informações preocupam, principalmente os órgãos de
saúde, uma vez que a obesidade e o sobrepeso são doenças sérias que nunca vem
sozinhas. Elas agravam o surgimento de outras doenças, como hipertensão,
problemas cardíacos, colesterol elevado e doenças psicológicas como depressão.
A situação provoca maior procura por atendimento nas unidades hospitalares,
sobrecarregando o Sistema Único de Saúde e elevando os gastos públicos.
Como os amapaenses tem
se alimentado
Dados do Ministério da Saúde relacionados a indicadores
alimentares nas capitais brasileiras (Vigitel, 2014) apontam que, na capital
amapaense, 52% da população adulta encontra-se com excesso de peso e 21%
consome refrigerantes em cinco ou mais dias da semana (a máxima registrada nas
capitais é de 29% e a mínima, de 7%).
Para combater isso, o governo federal está reforçando a
articulação de um conjunto de políticas intersetoriais, ampliando as políticas
de inclusão produtiva rural da população, com ações para fortalecer a produção,
o abastecimento e a comercialização dos alimentos, além da consolidação do
Sisan.
Entre as iniciativas, destacam-se o Programa Nacional de
Alimentação Escolar (Pnae), cujo percentual mínimo de aquisição de alimentos da
agricultura familiar é de 30% e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que
compra produtos da agricultura familiar – em geral, a partir da produção local
– e os distribui entre a população em situação de vulnerabilidade.
O mesmo ocorre com as compras governamentais, feitas por meio
da modalidade Compra Institucional, do PAA. Criado em 2012, o modelo permite
que municípios, estados e órgãos federais comprem, com recursos financeiros
próprios, produtos da agricultura familiar de forma simplificada e segura. E
uma nova medida anunciada no Plano Safra da Agricultura Familiar 2015/2016
determina que os órgãos federais (administração direta e indireta) deverão
destinar, no mínimo, 30% dos recursos aplicados na aquisição de alimentos para
a compra de produtos da agricultura familiar.
Insegurança Alimentar
Alguns passos nesse sentido já vem sendo dados desde 2006 com
a criação do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan), que
coordena as ações públicas nesta direção e articula a integração entre os entes
federados e a sociedade civil. Ao aderir ao sistema, os governos estaduais e
prefeituras reforçam o acesso à alimentação, por meio da busca ativa ao número
de famílias que ainda estão em insegurança alimentar e promovem a qualidade dos
alimentos que são ingeridos pela população.
Onze anos se passaram e o Amapá ainda não conseguiu concluir
o Plano Estadual de Segurança Alimentar, que se propôs a elaborar em 2015,
quando ocorreu em Macapá, a 4ª Conferência Estadual de Segurança Alimentar e
Nutricional. É esse plano que vai definir de que forma serão identificadas as
famílias em situação de risco.
A gerente do Núcleo de Segurança Alimentar e Nutricional e secretária
Executiva da Câmara Intersetorial de Segurança Alimentar do Amapá (Caisan/AP),
Tândera Pestana, reclama que uma das dificuldades para concluir o Plano de
Segurança Alimentar é a falta de interesse das prefeituras em aderir às
políticas voltadas para a melhoria da segurança alimentar da população. “Isso
dificulta ainda mais a nossa meta de formular o Plano Estadual. Alguns
municípios até tem leis sobre a segurança alimentar. Mas, ainda não a executam
de fato. É o que ocorre em Feira Gomes e Serra do Navio”, citou.
Investimentos
Mas, os esforços para destravar a burocracia vem sendo
recompensados e revertidos em benefícios aos agricultores locais. Prova disso,
foi a vinda do ministro do Desenvolvimento Social e Agrário (MDSA), Osmar
Terra, em Macapá (AP), onde cumpriu agenda nesta sexta-feira, 17. Ele veio
entregar veículos e equipamentos de um convênio entre o Governo do Amapá e
Governo Federal, para execução do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).
Em sua fala durante a cerimônia de entrega que aconteceu ao
lado do Trapiche Eliezer Levy na Orla de Macapá, o ministro Osmar Terra
destacou o papel fundamental do governo. “O governo do Amapá cumpriu um papel
muito importe nos ajudando a resgatar recursos que estavam perdidos e que agora
foram revertidos em aquisição de equipamentos para fortalecer a agricultura
familiar”.
O ministro do MDSA ressaltou que a entrega dos equipamentos é
a primeira etapa de outras que virão. Famílias de extrativistas que não tem
água potável estão sendo ajudadas com R$ 6,9 milhões. E mais de R$ 500 mil
também estão sendo repassados para o Conselho de Segurança Alimentar
Nutricional do Amapá (Consea/AP) “São recursos que vem para quem mais precisa,
para população mais vulnerável aqui do Amapá”, frisou.
O governador Waldez Góes informou que os 16 municípios amapaenses
estão sendo contemplados com os recursos. “Os beneficiários diretos dessas
parcerias são as entidades sociais e filantrópicas”, ressaltou.
Presente no evento, a deputada estadual Marília Góes (PDT),
falou com entusiasmo sobre o programa Criança Feliz anunciado pelo ministro
Osmar Terra, que será implantado no Amapá. O objetivo deste programa é garantir
uma alimentação adequada nos primeiros dias de vida da criança. No mês de
março, Terra irá retornar ao Amapá para implantar o Criança Feliz, que será
coordenado pelo MDSA.
Equipamentos
Ao todo, foram entregues 13 caminhões para escoamento dos
produtos das comunidades para as feiras do PAA nos municípios de Amapá,
Calçoene, Cutias, Ferreira Gomes, Itaubal, Laranjal do Jari, Santana, Macapá,
Mazagão, Porto Grande, Pracuúba, Serra do Navio e Tartarugalzinho.
Foram entregues, ainda, quatro pick-ups para as secretarias
do Desenvolvimento Rural do Amapá (SDR) e de Inclusão e Mobilização Social
(Sims) e equipamentos para Instituto do Desenvolvimento Rural do Amapá (Rurap).
O órgão que executa o PAA foi contemplado com 160 caixas térmicas, 36 balanças
de pequeno e grande porte (de até 300 kg), 200 monoblocos plásticos e 100
paletes dupla face.
O valor total do convênio é de R$ 8,2 milhões. O Governo do
Amapá executou 50% do contrato e executará o restante ao longo de 2017. Desde
2015, o Executivo estadual está investindo na agricultura familiar,
possibilitando a geração de renda para a população rural e a oferta de produtos
com mais qualidade para a população amapaense.
O governador Waldez Góes ressaltou a importância do PAA para
o Programa de Produção Integrada (PPI), que incentiva a produção na agricultura
familiar. “Foi um trabalho intenso para resgatar os recursos que estavam
perdidos e temos, agora, dois programas voltados para a agricultura familiar. O
PPI apoia a produção no campo e o PAA adquire os alimentos produzidos”.
Oferta de alimentos
O Brasil aumentou a oferta de alimentos graças ao
fortalecimento da agricultura familiar, responsável pela maior parte do que é
consumido no país. Dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e
a Agricultura (FAO) mostram o aumento de 10% da oferta de calorias no país em
10 anos. Em média, a disponibilidade diária de calorias passou de 2.900 para
3.190, entre 2002 e 2013.
Por meio do PAA, os agricultores familiares brasileiros
aprendem a planejar a produção, regularizar o fornecimento e garantir a
qualidade dos alimentos produzidos. Em 2014 no Amapá, o governo federal
investiu R$ 9,2 milhões na compra de 2,5 mil toneladas de alimentos de 1,3 mil
agricultores familiares.
Outra estratégia para melhorar a produtividade da agricultura
familiar é por meio da Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater). No Amapá,
890 agricultores familiares já têm acesso garantido a estes serviços.
Ministério da Saúde
disponibiliza de Guia Alimentar para a população brasileira
Em 2014, o Ministério da Saúde publicou um Guia Alimentar
para os brasileiros. A proposta era usar o instrumento no combate à obesidade e
o avanço das doenças crônicas no Brasil. Pois, mais da metade da população já
se encontrava acima do peso.
A atualização da publicação relata quais cuidados e caminhos
para alcançar uma alimentação saudável, saborosa e balanceada. A nova edição,
ao invés de trabalhar com grupos alimentares e porções recomendadas, indica que
a alimentação tenha como base, alimentos frescos (frutas, carnes, legumes) e
minimamente processados (arroz, feijão e frutas secas), além de evitar os
ultraprocessados (como macarrão instantâneo, salgadinhos de pacote e
refrigerantes).
A intenção do Guia Alimentar é promover a saúde e a boa
alimentação, combatendo a desnutrição, em forte declínio em todo o país, e prevenindo
enfermidades em ascensão, como a obesidade, o diabetes e outras doenças
crônicas, como Acidente Vascular Cerebral (AVC), infarto e câncer. Além de
orientar sobre qual tipo de alimento consumir, a publicação traz informações de
como comer e preparar a refeição e sugestões para enfrentar os obstáculos do
cotidiano para manter um padrão alimentar saudável, como a falta de tempo e
inabilidade culinária.
O Guia orienta as pessoas a optarem por refeições caseiras e
evitarem a alimentação em redes de fast food e produtos prontos que dispensam
preparação culinária (‘sopas de pacote’, pratos congelados prontos para
aquecer, molhos industrializados, misturas prontas para tortas). Outras
recomendações diz respeito ao uso moderado de óleos, gorduras, sal e açúcar ao
temperar e cozinhar alimentos e o consumo limitado de alimentos processados
(queijos, embutidos, conservas), utilizando-os, preferencialmente, como
ingredientes ou parte de refeições. Na hora da sobremesa, o ideal é preferir as
caseiras, dispensando as industrializadas.
Destaque especial é dado também às circunstâncias que
envolvem o ato de comer, aconselhando-se regularidade de horário, ambientes
apropriados e, sempre que possível, companhia. O ideal é desfrutar a
alimentação, evitar a refeição assistindo à televisão, falar no celular, ficar
em frente ao computador ou atividades profissionais.
10 passos para uma alimentação adequada e saudável:
1 Fazer de
alimentos in natura ou minimamente processados a base da alimentação
2 Utilizar óleos,
gorduras, sal e açúcar em pequenas quantidades ao temperar e cozinhar alimentos
e criar preparações culinárias
3 Limitar o
consumo de alimentos processados;
4 Evitar o
consumo de alimentos ultraprocessados;
5 Comer com
regularidade e atenção em ambientes apropriados e, sempre que possível, com
companhia;
6 Fazer compras
em locais que ofertem variedades de alimentos in natura ou minimamente processados;
7 Desenvolver,
exercitar e partilhar habilidades culinárias;
8 Planejar o
uso do tempo para dar à alimentação o espaço que ela merece;
9 Dar
preferência, quando fora de casa, a locais que servem refeições feitas na hora;
10 Ser crítico quanto às informações, orientações
e mensagens sobre alimentação veiculadas em propagandas comerciais;
O guia completo está disponível no site no Ministério da
Saúde: www.saude.gov.br
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