Motive-se!
O que mais se vê, hoje em dia, é gente reclamando da vida,
virando as costas para quem aparenta necessidade, muitas vezes se afastando do
irmão moribundo, porque cheira mal e veste-se de trapos.
O homem ainda não conseguiu entender a mensagem trazida pelo
Cristo, não esfor- ça-se por, pelo menos, tentar seguir os conselhos de amor e
caridade. Eu sei que é difícil perdoar a quem te calunia e ofende, desculpar o
indivíduo que, na condição de larápio, por vezes drogado, te assalta com
violência, ou pelo menos entender que se está te violentando de alguma forma é
porque mereces e tens culpa no cartório, justamente por erros que cometeste, se
não nessa vida, com certeza em outra encarnação. Lembre-se que só é roubado
quem já roubou, só é açoitado quem em algum momento fustigou. É a Lei de
Causa-Efeito, somos os únicos responsáveis pelas mazelas que sofremos.
Minha intenção, com esta observação que faço, não é com
intuito de julgar, mas de excitar o estímulo para que possas observar tua
conduta e, com certo esforço, te motives a afabilidade e a doçura, condições
que te atrairão em teu favor as correntes da simpatia, te fazendo compadecer
pela boa vontade e a sinceridade no coração.
Buscando a sabedoria espiritual, encontro em Emmanuel, uma
bela sugestão.
Comentavam os
aprendizes que a verdade constitui dever primordial, acima de todas as
obrigações comuns, quando Filipe afiançou que, a pretexto de cultuar-se a
realidade, ninguém deveria aniquilar a consolação. E talvez por reportar-se
André à franqueza com que o Mestre atendia aos mais variados problemas da vida,
o Senhor tomou a palavra e contou, atencioso:
— Devotado chefe de família que lutava com bravura por
amealhar recursos com que pudesse sustentar o barco doméstico, depois de
desfrutar vasto período de fartura, viu-se pobre e abandonado pelos melhores
amigos, de uma semana para outra, em virtude de enorme desastre comercial. O
infeliz não soube suportar o golpe que o mundo lhe vibrava no espírito e
morreu, após alguns dias, ralado por inomináveis dissabores.
Entregue a si mesma,
ao pé de seis filhos jovens, a valorosa viúva enxugou o pranto e reuniu os
rebentos, ao redor de velha mesa que lhes restava, e verificou que os moços
amargurados pareciam absolutamente vencidos pela tristeza e pelo desânimo.
Cercada de tantas lamentações e lágrimas, a senhora meditou,
meditou... e, em seguida, dirigiu-se ao interior, de onde voltou sobraçando
pequena caixa de madeira, cuidadosamente cerrada, e falou aos rapazes com
segurança:
— “Meus filhos, não nos achamos em tamanha miserabilidade.
Neste cofre possu- ímos valioso tesouro que a previdência paternal lhes deixou.
É fortuna capaz de fazer a nossa felicidade geral; entretanto, os maiores depósitos
do mundo desaparecem quando não se alimentam nas fontes do trabalho honesto e
produtivo. Em verdade, o nosso ausente, quando desceu ao repouso, nos empenhou
em dívidas pesadas; todavia, não será justo o esforço para resgatar com a
preservação de nosso precioso legado? Aproveitemos o tempo, melhorando a
própria sorte e, se concordam comigo, abriremos a caixa, mais tarde, a menos
que as exigências do pão se façam insuperáveis”.
Belo sorriso de alegria e reconforto apareceu no semblante
de todos.
Ninguém discordou da sugestão materna.
No dia seguinte, os seis jovens atacaram corajosamente o
serviço da terra. Valendo-se de grande gleba alugada, plantaram o trigo, com
imenso desvelo, em valoroso trabalho de colaboração e, com tanto devotamento se
portaram que, findos seis anos, os débitos da família se achavam liquidados,
enorme propriedade rural fora adquirida e o nome do pai coroado, de novo, pela
honra justa e pela fortuna próspera.
Quando já haviam superado de muito os bens perdidos pelo
pai, reuniram-se, certa noite, com a genitora, a fim de conhecerem o legado
intacto.
A velhinha trouxe o cofre, com inexcedível carinho, sorriu
satisfeita e abriu-o sem grande esforço.
Com assombro dos
filhos, porém, dentro do estojo encontraram somente velho pergaminho com as
belas palavras de Salomão:
— “O filho sábio
alegra seu pai, mas o filho insensato é a tristeza de sua mãe. Os tesouros da
impiedade de nada aproveitam; contudo, a justiça livra-nos da morte no mal. O
Senhor não deixa com fome a alma do justo; entretanto, recusa a fazenda dos
ímpios. Aquele que trabalha com mão enganosa, empobrece; todavia, a mão dos
diligentes enriquece para sempre”.
Entreolharam-se os rapazes com júbilo indizível e
agradeceram a inolvidável lição que o carinho materno lhes havia doado.
Silenciou o Mestre,
sob a expressão de contentamento e curiosidade dos discípulos e, finda a
ligeira pausa, terminou, sentencioso:
— Quem classificaria de enganadora e mentirosa essa grande
mulher? Seja o nosso falar “sim, sim” e “não, não” nos lances graves da vida,
mas nunca espezinhemos a bênção do estímulo nas lutas edificantes de cada dia.
O grelo tenro é a promessa do fruto. A pretexto de acender a luz da verdade,
que ninguém destrua a candeia da esperança.
Bela mensagem, não?
Cultivemos, portanto, a brandura sem afetação; e a
sinceridade, sem espinhos. Somente o amor sabe ser doce e afável, para
compreender e ajudar, usando situações e problemas, circunstâncias e
experiências da vida, para elevar nosso espírito eterno ao templo da luz
divina.
Uma excelente e fraterna semana à todos
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