sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

ARTIGO DO TOSTES

O que precisa para Macapá? Mobilização e partilha social
Autor: José Alberto Tostes

              Pensar a cidade no Brasil ainda é algo que parece surreal. Os problemas são tantos que os gestores não têm mais respostas prontas, entre os gravíssimos dramas estão:  coleta do lixo, limpeza pública, transportes públicos, educação e saúde.  Quanto maior a cidade, maior a escala de diferentes problemas. É incrível que a maior parte da solução dos problemas está na própria comunidade. A vida em comunidade não tem sido fácil. Os conflitos têm sido inevitáveis e cotidianos. Quem visita a prefeitura de qualquer município brasileiro que lida com as questões urbanas diárias, saí de lá com a crença de que estamos um caos total.
              Quais as causas que contribuíram para este cenário? Seria fácil responder, dizer que a maior culpa está na irresponsabilidade de gestores que deixaram de fazer a sua parte. Nesta reflexão, irei me deter falar do papel da comunidade, viver em comum, significa respeitar o conjunto das diferentes coletividades, mas não é assim que acontece, vive-se sobre a síndrome da intolerância. A chamada relação de direitos e deveres é completamente secundária, quando boa parte, acredita que só existem direitos.
             Em um momento dito de crise, não se deve restringir somente a ideia de crise econômica, mas de ideias, atos, ações e estratégias, comum a todos. São tantos conflitos diários, com certeza gastamos milhares e milhões de horas para equacionar tudo. São problemas de energia, água, telefonia, acidentes de trânsito, violência e tantos outros pequenos conflitos.
            Verdadeiramente nos falta um conceito de cidade. Precisamos aprender a conviver coletivamente, assim como vivemos em família, muito embora, boa parte das famílias o conflito seja permanente.  O conceito de viver em comunidade ocorre quando deixamos de pensar somente na individualidade para pensar no coletivo, neste caso, todos têm que contribuir de forma irrestrita. O sujeito que joga lixo na rua, no canal, na frente da sua casa, é um infrator. Outro sujeito que faz fogueiras gerando grandes nuvens de fumaça, aqueles que estacionam em lugar proibido, em vagas restritas, aquele que fura a fila para ter algum tipo de privilegio. Tais exemplos são coisas cotidianas que poderiam ser evitadas com informação e civilidade.
               Em período de eleições, todo candidato, diz que vai fazer isso ou aquilo, que vai construir mais escolas, mais postos de saúde, vai colocar mais transportes coletivos, todavia ninguém diz, que vai investir mais em civilidade do lugar, de como, vamos gastar menos e ter mais qualidade de vida urbana. Como é possível uma feira vender produtos alimentícios, se no seu entorno está cheio de lixo e entulho jogado pelos próprios feirantes, que estão sempre a espera da benevolência do poder público. A responsabilidade é de todos, de quem vende, de quem compra e aceita produtos em condições de indigência. Então, a vida em comunidade parece mais difícil que possamos imaginar.
              Pensa-se em tanta coisa para ensinar nas escolas, disciplina de todo tipo, mas não se idealiza investimentos em civilidade. Como conviver em comunidade?  O comportamento individual e coletivo é imprescindível para alcançarmos minimamente algum tipo de qualidade. Não há dinheiro que chegue para algo que é mal administrado. A cidade não pode ser um grande depósito. Os governos e a sociedade civil investem pouco em campanhas de esclarecimento e orientação.
             Outro dia, um sujeito disse:  “o Pronto Socorro era um ambiente indigente”, então, indaguei a ele o seguinte: “Qual a sua solução para este problema”, ele respondeu que tem que ter mais médicos e mais espaço para atender o público, novamente lhe proporcionei a reflexão sobre o assunto com outra indagação: “ Você acha que isso resolveria”, ele fica em silêncio. Tudo na vida cotidiana é planejamento e gestão, se você gastar mais do que arrecada, ficará sempre devendo, assim é a cidade, quanto menos investimentos, maior será o débito com as questões urbanas.
                A grande maioria dos problemas urbanos está localizada nas condições de moradia inóspita e inadequada, gera múltiplas doenças que poderiam ser evitadas, evitando assim, a sobrecarga nos hospitais e no Pronto Socorro. Os exemplos estão postos, temos um problema para resolver, a questão da civilidade. Vivemos em comunidade de forma embrutecida, a intolerância fala mais alto quando se discute em favor do coletivo. O reflexo está no ambiente da cidade. Espaços públicos desestruturados, ambientes segregados, aumento dos índices de violência, degradação de vias, pontos de transportes coletivos quebrados, etc.
             A vida em comunidade começa com pequenos atos e atitudes. O poder público não tem mais respostas, tudo está na mão da sociedade. A cada ação clandestina dos munícipes, maior será custo para corrigi-la. Sempre se afirma que é preciso mais recursos, a pergunta é: precisa de mais recursos, ou de redimensionar ações para aperfeiçoar o que já existe? O que se vê, é a perda enorme de recursos por conta da má aplicação e da perda por inadequação dos projetos.
            Por um conceito de cidade, nos leva a outros possíveis indicadores, da real necessidade de maior participação de todos, não basta chegar à porta do prefeito e de outras instituições pedindo por melhorias. As causas de muitos dos problemas têm origem na própria comunidade. Por um conceito de cidade, requer integração entre as políticas, ações e estratégias, evitar a fragmentação, zelar pelo orçamento público e alcançar em médio prazo as metas planejadas.
             Vive-se a síndrome da desconfiança institucional, todos desconfiam de todos, isso representa uma grande perda dos valores de vida em comum. Uma das causas para todo este processo reside na maneira como são constituídas as relações, com base no compadrio e no apadrinhamento.
             Por um conceito de cidade, requer evitar rupturas na estrutura do tecido urbano, revitalizar os ambientes públicos, adequar às condições do sistema de transporte modal, evitar projetos temporários e eleitoreiros, organizar melhor atividades de saúde e educação, finalmente investir corretamente em sistemas de tecnologia de última geração. Quanto à comunidade, precisa agir de outra forma que não seja aquela que beneficia apenas uma minoria.  A vida urbana em comunidade não pode ser a perda dos valores, da memória e da qualidade de vida.

              Fui indagado sobre o que precisa a cidade de Macapá que irá completar, 258 anos, respondi que o maior problema de Macapá não é somente a escassez de infraestrutura urbana, mas construir melhor o emponderamento social. É fundamental que todos os segmentos da sociedade compreendam. O que faz uma sociedade e uma cidade melhor com maior e melhor qualidade de vida é a mobilização e a partilha social.


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