O
nosso tamanho. Por que ainda encolhemos?
Uma família, um povoado, o passar do
tempo e a imaginação de um escritor de talento foi suficiente para nascer o
romance que mais identifica a América Latina consigo mesma. E aqui vai logo uma
dica: a família Buendía e sua extensa genealogia publicada na primeira página
do livro “Cem Anos de Solidão”. É um romance
escrito pelo autor colombiano Gabriel Garcia Marquez e foi publicado pela
primeira vez na cidade de Buenos Aires, Argentina, no ano de 1967. A narrativa
do autor se passa em uma pequena cidade chamada Macondo, que em determinado
momento ficou cercada de água por todos os lados e Ursula, um dos personagens,
lamenta: “Aqui haveremos de apodrecer em vida sem receber os benefícios da
ciência”.
A impossibilidade de espaço nos impede de
contar toda a história do século de solidão vivenciado pelos Buendía, geração
após geração. Mas não nos impede de abordar o espírito que permeia seus
personagens principais. Todos os descendentes da família Buendía eram solitários,
inclusive uma pessoa que não fazia parte da família, mas era próximo de José
Arcádio, numa identificação que os unia pelo gosto que ambos tinham pelo poder
da magia e da ciência. Falo do cigano Melquíades, que era dotado de poderes
mágicos, inclusive o de adivinhar o futuro. “A ciência elimina distâncias [...]
daqui a pouco o homem vai poder ver o que acontece em qualquer lugar da terra
sem sair de casa.”
Estas citações do livro “Cem Anos de
Solidão” nos faz olhar a nossa realidade aqui no Amapá. Junto com Rondônia e
Roraima foram os últimos a serem elevados à condição de estados com a
promulgação da Constituição Federal de 1988. A população do Amapá está estimada
em 766.679, segundo o IBGE (2015). Das 27 unidades da federação, a população do
Amapá só é maior que a de Roraima.
O acesso ao estado do Amapá é feito por
via aérea ou fluvial. Não é ligado por via rodoviária a nenhuma outra unidade
da federação. Evidente que o Amapá não é uma ilha mas é como se fosse.
Quando nos debruçamos para analisar as
estatísticas oficiais nos vários cenários é que então podemos perceber a
incipiente produção de dados para melhor conhecer a realidade do estado. O
Amapá não possui um órgão oficial produtor de informações estatísticas capaz de
subsidiar o planejamento estratégico alinhado às novas tecnologias. Por aqui
muita coisa precisa ser investigada. Poderia aqui relacionar vários assuntos
importantes como por exemplo o tamanho da nossa economia informal. Este é um
tema que necessitamos conhecer melhor.
O acesso às informações disponíveis
também necessitam de mais transparência, pois ainda é um obstáculo. Estudo
realizado pela Controladoria-Geral da União
(CGU) em sua 2ª Edição (novembro/2015), denominado de “Escala Brasil Transparente”, o Amapá voltou a receber nota zero.
Este estudo mediu nos últimos seis meses o grau de transparência das
informações na administração pública de estados e municípios e apontou o
cumprimento da Lei de Acesso à Informação nos estados com notas de 0 a 10.
Fonte: Ranking apontou colocação de estados e variação em relação a
maio/2015 (CGU)
Agora, diante da crise
que estamos atravessando, os indicadores econômicos do Amapá têm mostrado
retração em vários segmentos. O primeiro deles é a receita, composta de 70% de
repasse do governo federal (FPE) e 30% arrecadação própria, onde ambos sofreram
queda. O FPE, repassado em janeiro de 2016, foi 27% menor em comparação ao
primeiro mês de 2015. A arrecadação própria de 2015 caiu 14,2% em relação a
2014, conforme dados publicados no Portal da Transparência (03/02/2015).
O PIB, crescimento da
soma das riquezas de todos os amapaenses do estado totalizou R$ 12,762 bilhões
em 2013, permanecendo com participação de apenas 0,2% em relação ao Produto
Interno Bruto do Brasil. Com isso podemos perceber o tamanho da nossa economia
no cenário nacional.
Os dados da PNAD
Contínua (IBGE), referente ao 3º trimestre de 2015 mostram que a taxa de
desocupação no Amapá foi a terceira maior. A Bahia ficou em primeiro lugar com
12,8%, seguido do Rio Grande do Norte com 12,6% e o Amapá com 11,7%. Assim, a
população desocupada no Amapá chega a 40 mil pessoas, aumentando a desocupação
17,9% em relação ao trimestre anterior e 9,8% em relação ao mesmo trimestre de
2014.
As vendas no varejo
amapaense caíram 2,9% em novembro, segundo apontaram os dados da PMC/IBGE. O
volume de vendas no comércio varejista amapaense apresentou queda de 2,9% na
série ajustada sazonalmente. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, o
setor varejista mostrou queda de 27,4% em novembro de 2015. Em ambas as séries,
foi o pior resultado entre as unidades da federação.
Os indicadores aqui
mostrados não são factoides e não têm a finalidade de denegrir o lugar que
vivemos, pelo contrário, merece de todos nós uma profunda reflexão e uma enorme
vontade de reverter estes números. Isto deve partir principalmente por parte
dos gestores e dos nossos representantes locais e no Congresso Nacional
(deputados federais e senadores). Mas não podemos esconder o tamanho do nosso
atraso econômico. Somos pequenos e ainda encolhemos!
O Amapá necessita
exercitar-se economicamente e encontrar a sua vocação na busca pelo seu desenvolvimento. Esta realidade
que hoje vivenciamos na economia do nosso estado comprometerá o futuro das
novas gerações. Será que estamos vivendo em Macondo, a cidade
imaginada por Gabriel Garcia Marques?
AdrimauroGemaque,é articulista e, expressa seu ponto de vista em caráter pessoal
(adrimaurosg@gmail.com)
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