sexta-feira, 2 de outubro de 2015

COLUNA DE GABRIEL FAGUNDES




Eu acredito é na rapaziada


Ele é um senhor de idade completa. Caolho, camisa desbotada e calça do jeito que idoso gosta: folgada, com cores de tons marrons. Seu Romualdo mantém sozinho, um bar de esquina. A estrutura não é das piores: todo de madeira, madeira boa! Por dentro, com alguns bancos no balcão e cadeiras e mesas de plástico espalhadas pelo lado de fora. Vende alguns itens além de bebida. Sempre tem uma coxinha ou qualquer outro salgado na estufa, embora com aparência não muito convidativa. Pelo que sei, tem dois filhos já adultos. Quando em vez os vejo por aqui. É estranho porque surgem do nada, falam qualquer coisa com o pai, e se vão. O velho, por sua vez, fica aqui, mostrando vigor ao conseguir levantar e organizar as "grades" de cerveja, que enfeitam quase todo o recinto. Não deve ganhar muito, mesmo na certeza de que as vendas são boas. Parece contraditório. Acho que é o suficiente para a sobrevivência dele e da família. O suficiente... pouca gente sabe viver com isso. É aqui que eu me lembro da feliz colocação do apóstolo Paulo, quando escreveu a Timóteo: "Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes".

Estar contente é uma condição ideal, penso eu, para o descanso da alma e o sossego da mente. Estar contente significa que mesmo passando por uma dificuldade aqui, outra lá, aos trancos e barrancos do cotidiano, você sabe que vai passar e que as coisas vão melhorar. Good vibrations, diria um guru. Contentar-se é ser agradecido quando se tem muito, e ser muito agradecido quando se tem pouco. Porque no muito de muita gente, há quase nada. No nada de tanta gente, há quase tudo. Rolando Boldrin cantou algo semelhante às palavras do apóstolo. "Cumpade meu que enveieceu cantando diz que ruminando dá pra ser feliz". Parece até que ele cita o próprio Paulo!

É bem difícil no mundo do consumo desenfreado e de lançamentos tecnológicos e tentações a cativar os olhos e a lancear a alma, conseguir viver bem só pelo fato de ser ter um trabalho, um lar, comida e bebida e roupas para vestir. Difícil, não impossível. E andando por aí eu descubro cada vez mais quanto isso é possível, e o quanto estar contente faz bem para a alma, mente e coração.

Lembremos: contentar-nos é reconhecer que se a vida está boa ou não, se tem comida ou roupa ou não, isso faz parte e que devemos ser gratos por todos os momentos. E não confundamos contentamento com zona de conforto!

Eu aprendo isso todos os dias e sigo no meu ofício: mastigando o mundo e ruminando e tocando essa vida boa demais. "Eu ponho fé é na fé da moçada que não foge da fera e enfrenta o leão". E como o saudoso autor dessa frase, eu também acredito é na gente que segura a batida da vida o ano inteiro... e nós estamos por aí.

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