Mobilização dos macapaenses pelo uso da ‘magrela’
82% dos brasileiros gostariam
de trocar carro por bicicleta tanto para trabalhar quanto para o lazer, diz
pesquisa nacional.
Reinaldo Coelho
Todos já devem ter percebido que, nos últimos
anos, a bicicleta tem recebido espaço nos noticiários no Brasil e no mundo. A
discussão em torno dos principais problemas urbanos (poluição, mortes de trânsito,
engarrafamento, estresse…) tem trazido cada vez mais a bicicleta como
alternativa, tanto que inúmeros grupos tem surgido para tentar demonstrar a sua
viabilidade no nosso cotidiano.
Como toda grande transformação que surge
primeiro no plano das ideias, esta é uma mudança que levará tempo para se
instalar, principalmente que toda sua aplicação é dependente do poder público e
mudança de hábito da sociedade, nesse caso os motoristas. Mas é interessante
notar como aos poucos ela vai passando a ser incorporada nas mais diversas
áreas da atividade humana.
Mesmo que se torne quase impossível manter a
harmonia entre os 64 milhões de veículos motorizados que circulam pelo Brasil.
Pensando nisso o parlamento brasileiro aprovou a Política Nacional de
Mobilidade Urbana (PNMU) do governo federal, Lei 12.587/12, que pretende
estimular transporte coletivo público nas cidades e desestimular a corrida pelo
uso do automóvel individual.
De acordo com o Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (IPEA) a falta de políticas públicas para transporte de
massa e mobilidade urbana, aliada a passagens cada vez mais caras, provocou uma
queda de cerca de 30% na utilização do transporte público no Brasil nos últimos
dez anos. Em algumas cidades, dependendo do trajeto, sai mais barato usar moto
ou carro do que o ônibus, metrô ou trem. Sem falar nos casos em que há ausência
total de transporte público.
A nova legislação, em vigor desde 2012,
contrariando os incentivos tributários dados pelo governo federal para a
aquisição de carros e motocicletas, passou a estabelecer como prioridade para
as cidades o transporte coletivo, público e não motorizado, em vez do
individual, particular e motorizado.
Para isso, prevê mecanismos para garantir
preços acessíveis no transporte coletivo, vias exclusivas para ônibus e
bicicletas, restrição de circulação de veículos privados em determinados
horários e cobrança de tarifa para utilização de infraestrutura urbana, como
estacionamentos públicos.
Foi com base na legislação que um veículo não
motorizado passou a reclamar seu espaço: a bicicleta. Limpo e renovável por
natureza, já que é a propulsão humana e não a combustão, as chamadas bikes ganham cada vez mais importância
como alternativa verde de transporte, o que promove também saúde, esporte e
lazer.
E uma nova nomenclatura passou a vigorar a
Ciclomobilidade e com elas os problemas a disputa pelo espaço entre os
automotores, ciclistas e pedestres.
E se faz necessária uma infraestrutura
adequada (ciclovias, ciclofaixas, entre outras), bem como medidas de educação e
fiscalização em relação ao uso e ao respeito a esses espaços. Igualmente
importante seria priorizar – em planejamentos e ações – o transporte coletivo.
Porém o legislador teve essa visão e definiu
como obrigatório que municípios com mais de 20 mil habitantes devem elaborar o
Plano de Mobilidade Urbana em até três anos, de forma integrada ao plano
diretor previsto pelo Estatuto da Cidade. Até então, apenas municípios com mais
de 500 mil habitantes tinham essa obrigação.
Macapá tem mais...
Dados da Prefeitura de Macapá e do IBGE
mostram que Macapá tem 0,39% de ciclovias e ciclofaixas em sua malha viária. Macapá,
em seu Plano Diretor, já tinha se adiantado quando a determinação da lei
federal. No Artigo 18, inciso V, é determinante (...) V – Estimula os meios de transportes menos poluentes, como as bicicletas;
E logo no Artigo 19, inciso IV, estabelece a
implantação de ciclo faixas e ciclovias. De acordo com o Arquiteto Otávio
Augusto em um artigo publicado numa revista de circulação nacional, a
BICICLETA, ressalta que nestes 11 anos de funcionamento do Plano Diretor de
Macapá, os gestores o tivessem cumprido ... teríamos hoje uma extensa malha ciclo-viária...
Mas somente em 2012 começou na gestão do
então Prefeito Roberto Góes (PDT) começou a implantação de um cinturão de
ciclovias que vai ligar à zona norte a zona sul de capital. A ciclovia começa
na Rua Claudomiro de Moraes, seguindo pela Avenida Pedro Lazarino, Rua Hamilton
Silva, Avenida Antônio Coelho de Carvalho, Rua Cândido Mendes, e Avenida Beira
Rio até a rodovia Jucelino Kubistcheck, no sentido sul.
Já no sentido norte o trajeto será o mesmo
até a Rua Hamilton Silva, dobrando na Avenida José Tubinambá, passando pela Rua
José Serafim e Avenida São Paulo até a ponte Sérgio Arruda.
As ciclofaixas da Avenida Feliciano Coelho tem 70 cm de largura |
A continuidade se dá na Rodovia Tancredo
Neves a partir de ponte Sérgio Arruda até a BR 210, localizada no canteiro
central. Porém, pelo descaso dos atuais gestores municipais, principalmente da
CTMac, as faixas estão abandonadas e os motoristas a utilizam como estacionamentos.
Sinalização
Os macapaenses estão entre os quem usam
bicicleta como transporte cotidiano, ou como forma de praticar exercício físico
ou mesmo competir, porém, sofrem com a falta de espaços próprios e adequados e
devidamente sinalizados.
A falta de sinalização na JK, na Rodovia do
Curiaú e na Duca Serra é notória e o caso da Duca Serra, é pior no horário
noturno, pois ainda há a escuridão.
Os profissionais do pedal também sofrem com
essa falta de espaço. Para a disputa de provas oficiais, a rodovia AP-070 já
foi adotada como circuito. Os atletas dividiam espaço com os carros e motos que
se deslocam para o interior. Hoje é utilizado a Norte/Sul, que ainda não possui
grande fluxo de tráfego. Eles ainda, felizmente, não sofreram acidentes de trânsito
durante as competições.
Jair Borge e Mauricio Guedes da Equipe da Trilha |
Mas os que a usaram para ciclo-caminhadas
tiveram acidentes graves e mortais. Foi o caso do empresário Roberto de Souza
Fernandes, de 50 anos, o Bob como Roberto era conhecido pelos amigos, morreu na
manhã de domingo (3/08/14) ao ser atropelado quando tentava ajudar uma amiga
que estava com o pneu da bicicleta furado, na rodovia JK, nas proximidades do Distrito
de Fazendinha, a 9 quilômetros de Macapá. Eles faziam parte de um grupo de seis
ciclistas acostumados a fazer trilhas nos fins de semana.
Protestos
Não raro, ciclistas amadores e profissionais
se reúnem para reivindicar melhorias e espaços adequados para o ciclismo em
Macapá. Nos atos, a proposta é chamar a atenção para o alto índice de
violência, protestar contra o grande número de acidentes de trânsito,
reivindicar respeito aos ciclistas, além de celebrar o pedal como esporte.
Grupos Educadores
Diversos amigos resolveram criar um grupo
denominado 'Equipe de Trilha', para chamar a atenção da sociedade sobre a
realidade do ciclista em Macapá. De acordo com o criador e coordenador da
equipe, Hélio Araújo, a ideia surgiu em 2010, a partir da necessidade de haver
espaço destinado aos adeptos da atividade física.
Outro participante do movimento Mauricio
Guedes, falou a reportagem que aqui em Macapá, algumas iniciativas podem ser
adotadas e assim, fazer a diferença na vida das pessoas que incentivam o uso da
bicicleta pela população.
Tal afirmação se faz pertinente pelo fato de
Macapá agregar características geográficas que são amplamente positivas, a
exemplo o fato de ser majoritariamente plana, no entanto no âmbito estrutural a
situação é precária,e explica porque. “As ciclofaixas estão ocupadas de forma
inadequada ou edificadas com falhas, as existentes estão em situação calamitosa,
feitas com material inadequado (tinta), em muitos trechos apresentam ondulações
e sujeiras, não há fiscalização e consequente não punição das infrações
cometidas por motoristas, pouca sinalização, enfim inúmeros problemas”.
É correto afirmar que o principal risco para
quem pedala nas ruas das grandes cidades, dentro ou fora das ciclovias e
ciclofaixas, é mesmo a falta de consideração dos motoristas.
Atentos a essas situações os grupos de
ciclistas se organizaram e instituíram um comitê denominado de Comitê de Segurança e Ciclomobilidade que
visa atuar na cobrança, orientação, elaboração de projetos e na realização de
ações voltadas a chamar a atenção do poder público e da sociedade civil quanto
as problemáticas que circundam todas as questões supra citadas.
Grupos que organizam os pedais
diários em Macapá e Santana.
• Urbe Bikers
• Equipe de Trilha
• Equipe Tumucumaque
• Pedaleiros do Amanhecer
• Pedal Leve Ciclo Tour
(Município de Santana)
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