Oiapoque: Uma fronteira em
eterno litígio
‘Aqui não mora desertores. Moram homens
trabalhadores, pessoas que apostaram em Oiapoque para sobreviver. Só que como
todas as obras que iniciam no município e não são concluídas, as promessas também
não são cumpridas’.
Reinaldo Coelho
Da Editoria
O
município do Oiapoque, considerado o ponto extremo do Estado do Amapá e até 1998,
o do Brasil, pois perdeu para o Monte Caburaí, em Roraima. Essa referência e a popularizada
expressão ‘Do Oiapoque ao Chuí’ só existe na memória popular. Esta e outras
situações tem gravado na história desse torrão brasileiro a luta incansável dos
seus habitantes para ali sobreviver. Esse povo heroico que desde a época da
colonização vem sendo litigiado pela posse de suas terras, riquezas e autoestima.
Um
dos primeiros litígios históricos remonta ao Tratado de Utrecht, de 1713, entre
a França e Portugal, mas diversas interpretações quanto ao traçado da fronteira,
existente hoje, foram resolvidas por uma arbitragem internacional feita pela
Suíça deu razão ao Brasil em 1900 comandada pelo Barão de Rio Branco.
Atualmente
o município está precisando de um “novo” Barão do Rio Branco, para ajudar os
oiapoquenses a resolverem seus problemas, pois o poder público vem trazendo
promessas e não soluciona os seus males, ao contrário cria mais problemas.
A
cidade de Oiapoque originou-se da morada de um mestiço, Emile Martinique, e por
isso, chamava-se inicialmente Martinica. Pouco tempo depois, o governo federal
criou um ponto militar, para onde vários presos políticos foram enviados. Ou
seja, transformou a então vila em morada dos indesejáveis do Brasil Central.
Alguns anos mais tarde, o ponto foi transferido e, em 1945 o município de
Oiapoque foi criado.
O município
Após
sua transformação em município e, mantendo o isolamento da capital amapaense,
pois se localiza a 590 quilômetros de Macapá, e contando apenas com o
transporte marítimo para se deslocar, na década de 50, Janary Nunes anunciou as
obras da BR 156 que seria a redenção da comuna, porém, já se passaram mais de
40 anos, e a histórica rodovia continua em obras.
Já
recebeu pavimentação asfáltica em 410 quilômetros no trecho Macapá/Calçoene,
mesmo assim, ainda faltam pavimentar 290 quilômetros da rodovia. E os
motoristas continuam sofrendo em lamaçais e ladeiras íngremes com abismos ao
lado e provocando isolamento da população fronteiriça.
As ações isoladas para a cidade de Oiapoque é um tipo de abandono institucional. Na cidade de Oiapoque, não há controle de absolutamente nada |
Em
todo o período invernoso o município fica isolado pelos lamaçais que dificultam
o acesso ao município e a realização de abastecimentos, principalmente de
alimentação e combustível, causando os racionamentos de energia constantes, o
que prejudica a já combalida economia local.
Energia
Durante
o inverno, a população chega há ficar 24 horas sem energia em razão dos atoleiros
na BR-156 que impedem o transporte de óleo diesel que vem da capital para
abastecer os geradores da usina termelétrica do município.
O
linhão proveniente da Hidrelétrica de Tucuruí, no Pará, que tem o objetivo de
reduzir a deficiência do abastecimento de energia no Amapá e melhorar a oferta
do serviço à população. Porém, mais uma vez, Oiapoque será alijado de um benefício,
vai ser o único município que não será interligado ao Sistema Nacional de
Energia Elétrica e deverá receber os refugos dos maquinários de outros
municípios beneficiados pelo Linhão de Tucuruí.
A
promessa da CEA para resolver este problema é contratação de uma empresa que
prestará o serviço de abastecimento, e a contratação de um produtor
independente de energia alternativa para o município de Oiapoque que funcionará
junto com a usina termelétrica.
Entre
as ações, está inclusa a instalação de uma pequena central hidrelétrica (PCH),
do Salto da Cafesoca, usina localizada no Rio Oiapoque. As obras estavam
previstas para iniciar em 2015 e orçadas em R$ 80 milhões.
Outras mazelas
Os
24 mil habitantes da cidade de Oiapoque estão enfrentando uma epidemia da febre
chikungunya, dengue, malária e o município passa por crises de abastecimento de
energia elétrica, e os moradores não conseguem ver concluídas as obras de
pavimentação da sua principal rodovia, a BR -156. O que falta piorar para esse
povo fronteiriço?
O
titulo de Zona de fronteira tem sido uma incompatibilidade, pois lhe confere,
com a mobilidade social intensa, clandestinidade, prostituição, aliciamento de
menores e outras características que são reproduzidas e capazes de sustentar as
redes de influência mútua destas áreas.
A
cidade, a partir do esquecimento do poder público, tem facilidades do comércio
ilegal, a venda e compra de euro e ouro em pleno centro comercial, o tráfico de
pessoas, a exploração sexual e o não pagamento de impostos fazem do Oiapoque um
lugar interessante e cheio de possibilidades, alimentando o sonho de
trabalhadores honestos e também de gente desonesta. Esta cidade fronteiriça
precisa receber atenção especial do poder público estadual e municipal e amplos
setores da sociedade civil, que precisam atuar de forma conjunta para a solução
de diversos problemas sociais e urbanos.
Clamor dos munícipes oiapoquenses
Tudo
no Oiapoque acontece lentamente, menos para a população, constituída por um
povo ordeiro e trabalhador, que conhece seus direitos e briga por eles. Os
oiapoquenses, volta e meia, estão nas ruas protestando contra a situação caótica
do município. Sua juventude é ativa e tem conhecimento da realidade mundial,
observa-se isso nas redes sociais, onde postam suas satisfações e indignações
contra os males do seu município.
Para
quem chega a Oiapoque não é difícil captar a lógica da desordem urbana pela
qual passa o município, que sofre com a falta crônica de infraestrutura, sob a
inércia do poder público. Com a proliferação de bairros pobres e habitações
construídas sem nenhum tipo de planejamento.
Quiosques estão abandonados na praça de Oiapoque |
Um
dos clamores é com referência a revitalização das obras da única Praça da
cidade e de sua Orla, que há mais de 10 anos deveria esta construída.
As
escolas do município funcionam em prédios alugados, os remédios estão com os
preços às alturas, quando tem. As ruas esburacadas, sem pavimentação. Um senhor
maranhense desabafa “Aqui não mora desertores. Moram homens trabalhadores,
pessoas que apostaram em Oiapoque para sobreviverem. Só que como todas as obras
no município, que iniciam e não são concluídas, as promessas também não são
cumpridas”.
Prostituição e garimpo
Polícia Militar do Estado do Amapá mantém vigilância constante para combater o garimpo ilegal |
É
possível constatar que a devido ao garimpo a prostituição na cidade e as drogas
imperam na cidade. As “garotas” ficam sentadas em cadeiras próximas as
lanchonetes e, de acordo, com a chegada dos “clientes”, entram no carro. O
interessante é que parece existir uma espécie de fila em que as mesmas ficam
sentadas em cadeiras esperando estes “clientes”.
Uma ilusão aurífera
Os
garimpeiros trazem o sonho de trabalhar na Guiana Francesa, interrompido devido
a forte fiscalização, por parte do governo francês, que atualmente tem adotado
uma violenta repressão à entrada desses brasileiros em seu território.
Esses
trabalhadores se declaram cansados de serem expulsos; outros experimentam
dificuldades para documentar-se e residir/trabalhar legalmente na Guiana
Francesa. Por isso, muitos decidem estabelecer-se em Oiapoque, até mesmo por
não possuírem condições financeiras de retornar às suas cidades de origem ou
mesmo por terem investido todo seu dinheiro na viagem clandestina para a Guiana
Francesa.
Ponte bi nacional
A
ponte binacional, entre os dois países, que custou R$ 61 milhões, aguarda
inauguração há quatro anos. A ponte que deverá sofrer impactos ambientais,
sociais e econômicos, com efeitos marcantes sobre as populações locais e sobre
os processos de urbanização na Região Norte do Estado.
Uma
das demandas será o “núcleo Beira-rio”, que já começa a ser afetado mesmo antes
de sua inauguração. Os catraieiros, por exemplo, perderão sua função de
travessia na fronteira. O comércio e os serviços que sempre tiverem sua
logística associada ao rio terão que procurar alternativas para suas
articulações, pois as dinâmicas transfronteiriças mudarão de lugar, de forma,
de tempo e de caráter. O próprio centro urbano atual tende a se isolar, pois o
acesso a ponte acontece a quilômetros do centro da cidade.
Ultimamente
a economia de Oiapoque vive um momento de crise, motivado por fatores gerados
no lado francês, o que mostra a vulnerabilidade da economia local em relação ao
país vizinho. O simples recrudescimento da repressão policial aduaneira à
entrada dos produtos brasileiros naquele departamento francês foi suficiente para
enfraquecer o comércio local, pois o euro deixou de circular. É mais fácil um
guianense chegar ao Oiapoque do que um oiapoquense adentrar em Saint-George.
s catraieiros com a inauguração da ponte Binacional na fronteira entre Oiapoque e Saint-George serão os mais prejudicados com a perda clientela |
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