sexta-feira, 3 de julho de 2015

CAESA tenta se erguer negociando dívida e pagando fornecedores enganados pelo governo passado

R$ 126 milhões
CAESA tenta se erguer negociando dívida e pagando fornecedores enganados pelo governo passado



Tentando recuperar o equilíbrio do Estado, depois de quatro anos de inoperância e trapalhadas deixadas em todos os setores, a nova gestão tem usado como trunfo principal o diálogo. O Amapá hoje é um vaso quebrado que vem sendo remendado aos poucos em um paciente trabalho de colagem para que cada caco se encaixe em seu devido lugar.
Recolocar o Amapá em sua rota é a missão, apesar dos estragos imensos confirmados a partir de janeiro, depois de um processo de transição conturbado onde as informações sobre a situação de cada pasta foram sonegadas para a equipe do novo governo. Sem elas foi difícil saber ao certo o que viria pela frente, mas uma coisa era certa, não seria fácil. 



Educação, Saúde e Segurança Pública, tripé de todo governo, foram encontradas falidas e mergulhadas em dívidas gigantescas. O calote dado em fornecedores travou o funcionamento destas "máquinas". Uma bomba programada para explodir nas mãos do novo governo, que teve que recomeçar tudo a partir do zero com o "motor administrativo" fundido sem ter em mãos as peças para repor.
Assim como as pastas vitais, os serviços de primeira necessidade à população também sentiram o abalo. O fornecimento de água foi um deles. Durante os quatro anos do governo passado as ações esperadas não passaram de propaganda, com uma vultosa soma de nada menos que R$28 milhões, bem acima de muitos setores. Depois da troca de gestão, a cortina da falsa publicidade acabou caindo e a realidade surgiu por trás dela.
Há poucas semanas a diretora-presidente da CAESA (Companhia de Água e Esgoto do Amapá), Patrícia Brito, usou o plenário da Assembleia Legislativa para falar sobre o uso racional da água. Ela também abordou em detalhes a situação atual da Companhia que tem uma dívida de R$ 126 milhões, deixada pela gestão passada. A audiência pública na ALAP teve o objetivo de discutir diagnósticos e soluções para a captação, abastecimento e distribuição de água no Amapá.
De acordo com o 'Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil', as regiões Norte e Nordeste apresentam a maior problemática nos sistemas de tratamento do produto. Por outro lado, 81% do potencial hídrico do Brasil está na Amazônia e menos de 14% da população da zona urbana é beneficiada por sistemas de abastecimento. No Amapá são apenas 3% e em Macapá, 5%.
A falta de investimentos no setor seria o culpado pelos números. Ao longo dos anos, pouco se fez para expandir o sistema que há muito deixou de acompanhar o crescimento da população. Muito do que foi feito não passou de jogadas de marketing para promover governos. O maior exemplo veio do PSB. Ainda no governo de João Capiberibe entre 1994 e 1998 sendo reeleito até 2002, a água foi um trampolim de promoção pessoal. Foi prometido à população que a água jorraria nas torneiras do amapaense por 40 anos. As quatro décadas, no entanto, não passava de uma alusão ao número da legenda do partido. Na prática, quase nada aconteceu e a população continuou com os mesmos problemas durante oito anos.
Reassumindo o governo em 2011, o PSB prometeu novamente ações para expandir o abastecimento, mas a execução não surtiu efeito. Os mesmos problemas de antes persistiram com o agravante do surgimento de inúmeros bairros. Mas onde a ação falhava, a propaganda tentava mascarar a realidade. A estratégia não deu certo. Em 2013 uma pesquisa do Instituto Trata Brasil revelava que as obras mal executadas, ligações clandestinas e a medição incorreta eram as responsáveis pela situação financeira precária da CAESA. O Amapá foi apontado como o pior caso nesse contexto e se conseguisse reduzir o problema em ao menos 10% teria um ganho de R$ 8,3 milhões, o que representaria 6.135% a mais do que o Estado investiu no setor em 2010. O governo tomou conhecimento dos dados, mas, pelos números que se seguiram, parece ter ignorado as providências sugeridas. Em termos de município, Macapá foi tida como a cidade campeã de desperdício. São 73,91% de perda do que é distribuído.



Voltando à audiência da ALAP, a atual diretora da CAESA, Patrícia Brito, esclareceu que o Estado sente as consequências da falta de ações. Segundo ela, não são somente as dívidas que emperram o trabalho, mas o que se deixou parar, referindo-se às inúmeras obras interrompidas encontradas pela nova gestão.  Patrícia disse que sua equipe vem analisando os processos para que tudo volte a ter andamento o mais breve possível.
Hoje, disse Patrícia, a principal preocupação é com a redução de perdas. Para que aconteça uma redução, equipes estão trabalhando na hidrometração, que é a implantação de medidores e a leitura correta destes equipamentos, além do cadastramento de clientes. Para reduzir o desperdício a CAESA pretende trabalhar a conscientização dos consumidores com palestras em escolas. O objetivo é formar multiplicadores de informação
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AÇÕES E EFEITOS...
O resultado da gestão de braços cruzados fez com que a população pagasse um preço alto, o da falta de água. Muitos bairros enfrentam o problema por dias, alguns por semanas e existem os que convivem com isso há anos. Recentemente a redução do abastecimento em vários setores da Zona Norte foi solucionado.
A causa era resultado da interrupção do fornecimento de produtos químicos, que são usados no tratamento da água. Os fornecedores interromperam a entrega depois do calote dado pelo governo passado. Logo que assumiu a diretoria, a nova gestão se deparou com a informação de que os produtos dariam para somente dois dias. Uma dívida de R$1,5 milhões foi negociada e os produtos acabaram sendo liberados, entre eles o sulfato de alumínio, cal, polímero e cloro.



A direção reconhece que ainda existem muitos problemas, mas que agora eles são direcionados para serem resolvidos e não engavetados. Quanto a redução de fluxo na zona Norte, principal reclamação da população, ela é consequente da falta de pressão nos canos. A situação envolve principalmente os bairros mais afastados. A solução será a conclusão da caixa d'água da Zona Norte. De acordo com Patrícia Brito, a obra é uma das prioridades da CAESA no momento. A estrutura vai garantir mais pressão na distribuição do produto e encurtará a distância do abastecimento. O que acontece hoje é que a adutora da zona Norte está sobrecarregada. A Companhia reconhece não ter acompanhado o crescimento da cidade. Outra prioridade é a ampliação da estação de tratamento no Bairro Beirol que também está parada. A retomada está prevista já para os próximos meses.
As ações anunciadas pela CAESA resumem as palavras de ordem da atual gestão: diálogo e ação rápida. Os primeiros resultados já começam a surgir a partir da recuperação da relação com os fornecedores interrompida por falta de pagamento. Os outros passos a reativação das obras paradas também por conta da inoperância onde o grande afetado foi a população. Nessa investida de retomada para que o Estado volte a caminhar, pelo que já adiantou a nova gestão da CAESA, as ações serão concretas e não somente algo que só existe na propaganda. "Muito se disse e pouco se fez". Esta é a frase mais ouvida entre os moradores afetados pela falta de abastecimento. Situação que, segundo a nova administração da Companhia de Água e Esgoto do Amapá, será reparada.


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