Oiapoque
23 de maio 1945 - 70 anos de isolamento
O extremo Norte do Amapá vai continuar isolado, não será
interligado ao Sistema Interligado Nacional através do Linhão de Tucuruí.
Oiapoque mais uma vez sai perdendo.
Reinaldo Coelho
Quem não conhece a
frase “Do Oiapoque ao Chuí” – cantado em versos e prosas no mundo inteiro? – Tratava-se
de uma referência a dois extremos territoriais do país, no norte e no sul
respectivamente. Tratava-se, e não se trata mais, porque há 14 anos uma expedição
oficial provou que o ponto geográfico mais setentrional do Brasil não é o Monte
Orange (na cidade de Oiapoque, Estado do Amapá). Seria o Monte Caburaí, em
Roraima, ou talvez a nascente do rio Uailã, no mesmo Estado. Até hoje a
definição ainda é alvo de polêmica.
Mais não é somente
isso que o fronteiriço município brasileiro vem perdendo. O município que está localizado
no extremo norte do Estado do Amapá e que tem uma área de 22,625 km², com uma
população de 23 628 habitantes, de acordo com as estimativas do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2014, deveria estar festejando
seus 70 anos de criação neste sábado (23). Pois foi criado em 23 de maio de
1945, através da Lei nº. 7.578/45.
A cidade de Oiapoque
cresce a cada ano, tanto geográfica quanto demograficamente. E tem um custo de
vida dos mais altos do Brasil, seus moradores pagam preços absurdos por
alimentos, lazer e vestuário. Isso se deve ao isolamento que a cidade há
décadas vem sofrendo com a interminável obra da BR 156 que é a mais longeva com
grande expectativa da população local.
O isolamento por via
terrestre ocorre desde 1943, data de criação do extinto Território Federal do
Amapá e da nomeação do primeiro governador via governo federal, Janary Gentil
Nunes. De lá pra cá, os diversos produtos continuam chegando de caminhões, isso
para desespero e desperdício de tempo de empresários e comerciantes que
necessitam ‘tocar’ seus negócios com a maior brevidade possível. As viagens de
Oiapoque a Macapá chegam a durar mais de 30 horas.
PSB (Camilo) x PSB (prefeito)
Em um texto publicado
por Celso PUZZLE no blog http://celsogues.blogspot.com.br/ ele relata o
desleixo do Estado sob o comando do partido PSB na figura do Camilo Capiberibe.
No mesmo texto ele exemplifica as obras da Praça Ecildo Crescêncio Rodrigues que
não foram priorizadas no comando do Camilo e hoje se encontram esquecidas.
Ironia das ironias,
Oiapoque é administrada por Miguel Caetano de Almeida, o Miguel do posto, do
PSB do ex-governador Camilo Góes Capiberibe e que, na administração camiliana, sequer
fazia o repasse constitucional do Fundo de Participação dos Municípios (FPM).
Para piorar a
situação dos espoliados cidadãos oiapoquenses em uma investigação preliminar da
Câmara Municipal de Oiapoque teria apontado diversas irregularidades, entre
elas, supostas celebrações de contratos entre a prefeitura e postos de gasolina
de propriedade de Miguel Caetano. Só no ano passado teriam sido comprados com
valores superfaturados mais de R$ 2 milhões em combustíveis.
O legislativo
municipal pediu o afastamento do prefeito que retornou à função, por
meio de uma liminar expedida pela 2ª Vara Cível da Justiça. Ele ficou nove dias
fora das funções administrativas, por suspeita de haver firmado contratos
irregulares entre a prefeitura e empresas da cidade.
Essa é a maneira
socialista de governar –, o Amapá está pagando a conta e Oiapoque recebe a
fatura.
Energia elétrica – Sem Linhão do Tucuruí
Outro fator de
emperramento do dia a dia do município é a energia elétrica, que deveria ser
resolvida com o linhão de Tucuruí, porém mais uma vez Oiapoque está de fora
desse beneficio.
O Amapá mudou seu
sistema de alimentação. Ele não exige mais usinas térmicas caras em diesel.
Agora a sua produção hidrelétrica está com "Linhão Tucuruí", que
interligará o Estado ao Sistema Interligado Nacional. Mas a conexão nas diferentes cidades do Amapá
não está completa e, é o caso de Oiapoque localizado 590 km da capital Macapá
que sofreram o impacto de seu afastamento.
Segundo a Companhia
de Eletricidade do Amapá (CEA), as três subestações que vão interligar o Linhão
ao Estado, “com exceção do município de
Oiapoque que não apresenta uma demanda considerável para uma linha acima de 300
KW”. Ou seja, o extremo Norte do Amapá vai continuar isolado, mesmo com o
Linhão de Tucuruí.
Enquanto isso o processo
que está sendo conduzido pela CEA incluiu o Sul do Estado, onde ficam os
municípios de Laranjal e Vitória do Jari, cidades que viviam a mesma
dependência de geração de energia térmica e que agora estão interligadas ao
sistema nacional, benefício negado até agora ao Oiapoque.
Apenas Oiapoque, a
590 quilômetros de Macapá, não será contemplado com a rede e permanecerá com o
fornecimento energético isolado dos demais, por causa da necessidade de
construção de uma rede de 500 quilômetros entre o município e Ferreira Gomes.
O diretor-presidente
da Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA), Ângelo do Carmo, em reportagem na
TV Amapá, informou sobre a possibilidade de comprar energia da empresa EDP, na
Guiana Francesa, a qual iria suprir a demanda oiapoquense. Porém alguns confiam
em um acordo onde essas questões deverão ser debatidas e essa possibilidade
dividiu os munícipes, pois eles se preocupam com o preço. A maioria confia em
um acordo onde essas questões deverão ser debatidas “Na Guiana funciona o euro que é mais caro do que nos Real”.
Um morador postou na
rede social que não acha a energia da EDF cara, ao contrário o serviço é bom e
sem cortes. “Não tem problema de
sobrecarga de tensão levando seus aparelhos a serem danificados”.
Enquanto isso, o
sistema energético do município continuará a ser impulsionado por sua estação
térmica de combustível, que leva 21 mil litros de diesel, por dia, para
alimentar a cidade e tem seu gargalo na condição da estrada, a famosa BR 156.
Falta de energia e insegurança
A cidade de Oiapoque
está a mercê da escuridão. A segurança, o lazer e a tranquilidade dos moradores
em andar a noite, está comprometida pela precarização da iluminação pública.
Mas uma de várias mazelas da cidade de Oiapoque.
A
incerteza de ter energia elétrica nas residências, trabalhos, centros de saúde,
escolas, comércios, aldeias e comunidades rurais, e sem saber se o próximo
racionamento virá por algumas horas, dias ou semanas (o que já custou uma vida
e pode vir a custar outras), assim como a impossibilidade de sair de maneira
segura da cidade em função das péssimas condições da estrada, seja em uma
emergência ou simplesmente para exercer nosso direito de ir e vir está
exasperando o munícipe Oiapoquense.
Na madrugada do
último sábado (16), um estudante de enfermagem da UNIFAP morreu depois de
passar a noite inteira inalando monóxido de carbono de um grupo gerador
doméstico. Entre sábado e domingo Oiapoque ficou 17 horas sem energia.
Um problema que
deveria ser tratado, no mínimo, como prioridade pelo poder legislativo da
cidade. Pois Oiapoque foi entregue ao caos da escuridão.
De acordo com
moradores oiapoquenses o descaso da CEA está simplesmente em não haver uma lei
municipal que obrigue a companhia em fazer a manutenção dos postes que estão
sem lâmpadas, pelo fato de não ter uma taxa de contribuição imposta a população
e nisso consiste a omissão da CEA. Se o morador quiser ter sua rua iluminada
terá que custear do próprio bolso por esse privilégio, uma vez que a CEA não
tem a obrigação de reparar os postes em que faltam lâmpadas, já que o morador
não paga um imposto específico para isso.
A Dengue prolifera
Somando-se
a isso incontroláveis epidemias de dengue e chikungunya, com aumento dos casos
em progressão geométrica e nenhuma resposta dos sistemas municipal de saúde,
além da cidade imunda, infestada de lixo e sem aterro sanitário, expondo a toda
sorte de zoonoses.
Desde 2014 a cidade
enfrenta o segundo maior registro de casos de dengue e de febre chikungunya no
país, atrás apenas do município de Feira de Santana, na Bahia. De 1º de janeiro
a 30 de abril foram confirmados 1.978 casos de chikungunya em 12 Estados mais o
Distrito Federal. Destes, 1.949 casos ocorreu na Bahia e no Amapá, o que
corresponde a 98,5%. Cerca de 80% a 90% dos casos no Amapá ocorrem em Oiapoque.
Manifestação
Durante duas semanas
a cidade de Oiapoque não tem seu abastecimento de eletricidade normalmente.
Este racionamento causa problemas significativos e dificulta a atividade
econômica. Os moradores resolveram se manifestar em massa nas ruas para
protestar contra esta situação.
De acordo com os
manifestantes a cidade encontra-se praticamente isolada do restante do Estado
em razão da falta de manutenção e dos atoleiros na BR-156. A viagem entre
Macapá e a sede do município, que até o inicio do ano era feita entre 6 e 8
horas, atualmente pode passar de 24 horas.
Moradores afirmam que carros pequenos não conseguem mais concluir a viagem e ônibus,
geralmente, são rebocados nos trechos críticos.
Devido à situação da
estrada o fornecimento de energia elétrica, que já estava complicado, ficou ainda
pior. Os caminhões tanques que levam óleo diesel para a termoelétrica não
conseguem chegar a Oiapoque, resultando em cortes constantes na geração de
energia e contribuindo para o sofrimento da população.
O prolongamento da
situação levou a população a aderir ao protesto que foi organizado por alunos e
professores do campus binacional da UNIFAP e pelo Movimento “Acorda Oiapoque!”,
movimentos sociais e acadêmicos, simbolicamente fortes, como a queima de pneus
em frente à CEA e a "inauguração" da parte brasileira da Ponte
Binacional, este grande elefante branco que custou muito dos nossos impostos,
impactos socioambientais e sobre nosso patrimônio arqueológico e até agora não
nos trouxe benefício algum.
Apelo
O
Movimento Reggae sem Fronteiras publicou na rede social que neste sábado (23), quando Oiapoque completa 70 anos, não tem o
que comemorar.
“Um
Oiapoque melhor é sinônimo de um Amapá inteiro melhor, pois pode vir a ser a
porta de entrada de muitas coisas que nos beneficiarão a todos. Por hora somos
a última fronteira, negligenciada e esquecida à própria sorte na extremidade
nortente desse Brasil que o Brasil não conhece”. Flavi'Anas – Banda Phyna e
Movimento Reggae sem Fronteiras –.
O
papel da UNIFAP no Oiapoque
A universidade tem tido um papel importante
nestes 10 anos, mesmo com imensas dificuldades, conseguiu formar mão de obra
para trabalhar no próprio município. A dificuldade institucional no Oiapoque
mostra a insanidade do que é o território brasileiro, cheio de contrastes
absurdos, regras quebradas e transitando um estado completamente clandestino. Para
piorar, a BR 156 e a Ponte Binacional deram ao Oiapoque o lema que faltava, uma
ponte que ninguém atravessa e uma estrada que nunca será pavimentada.
Portanto, o objetivo de auxiliar o município
de Oiapoque, em 2014, não foi concretizado. Esta missão institucional é demais
complexa para ficar no encargo de apenas uma instituição, mas deixa lições para
o futuro ano que se aproxima. Até quando os governos eleitos no Estado do Amapá
vão tratar a fronteira com este descaso? O que será preciso fazer mudar este
cenário? Que novas estratégias deverão ser adotadas? Precisamos acabar com a
visão de amadores que passam a exercer cargos públicos sem perceber onde estão
inseridos. Vamos transferir esta missão, talvez para o ano que vem? Ou quem
sabe, para o dia que cair a ficha sobre o que queremos da fronteira?
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