Milton Sapiranga Barbosa
BLUE
BLADE
Um amigo de longa data, num bate papo
informal, sugeriu que eu fizesse crônicas sobre temas
variados. Disse-lhe de imediato que não iria atender seu
pedido, pois sempre que me deparo com alguma coisa, fato ou objeto,
que lembre de minha infância feliz, vivida no querido bairro da
Favela, as lembranças afloram.
Quando me lembro da Macapá de
antigamente, quando se podia dormir com as janelas abertas, escorar a
porta com um “mucho”, e andava-se a qualquer hora, do dia ou da
noite, sem perigo de ser atacado por algum desocupado. Quando a
maioria da população era compadre e comadre, e mais importante, se
respeitavam, não tem jeito, o coração aperta e a viagem
no túnel do tempo da memória é inevitável.
Se não vejamos. Outro dia, estava eu num papo molhado com amigos, quando de repente me aparece um cidadão, com uma caixa de Gillette nas mãos, querendo trocar a dita cuja por uma “bujudinha”, Caninha da Roça (água que passarinho não bebe).
Se não vejamos. Outro dia, estava eu num papo molhado com amigos, quando de repente me aparece um cidadão, com uma caixa de Gillette nas mãos, querendo trocar a dita cuja por uma “bujudinha”, Caninha da Roça (água que passarinho não bebe).
Pronto, foi o bastante, viajei no tempo e entrei no templo da saudade, como vocês lerão a seguir .
Na época de ouro do rádio brasileiro, antes de inventarem a televisão, internet e outras geringonças eletrônicas, o rádio à válvulas era o veículo que o povo brasileiro se servia para ouvir músicas e se informar do que acontecia no Brasil e no Mundo através dos noticiários.
Quem não se lembra do Repórter Esso (Rádio Nacional), na vibrante voz de Heron Domingues, que informava as mais importantes noticias do Brasil e do Mundo, como por exemplo: O Fim da Segunda Guerra Mundial, a morte de Getúlio Vargas, a conquista do Brasil na Suécia, etc, etc… ?
Ao ver aquele pacotinho de Gillette Blue
Blade, com a foto do seu inventor e seu impecável bigode, lembrei de
alguns famosos gingles, do tempo que publicidades
no rádio eram chamadas de “ reclames”. Quem
nasceu na década de 40, 50 e/ou 60, certamente
ainda deve se lembrar de um destes;
Grapette,
quem bebe Grapette, repete; Pílulas de Vida do Dr. Ross,
fazem bem ao fígado de todos nós. Pequeninas, mas
resolvem; e do Xarope São João: – Alô, quem fala? r- É a tosse. – Aqui
quem fala é o Xarope São João! FUGIU Hein? – ~É sempre assim,
falou São João, a tosse vai embora na hora. E outro: do Leite em pó
MOCOCA que dizia; A vaquinha Mococa está mugindo, muuuu. A vaquinha
Mococa está dizendo: Beba leite em pó Mococa. do Talco
Ross: Passa , passa o Talco Ross, quero ver passar. Passa, passa o Talco
Ross para refrescar: Tinha também: Pasta Dental Golgate, remove
todas as cáries: Use Mitical que acaba com as
coceiras- Melhoral, Melhoral, é melhor e não faz mal. e do
Flip Guaraná, ouvia-se um barulho de vidro se estilhaçando
(presumidamente em copo caindo no chão), porque o locutor dizia: Quebrou?
Flip da outro!.Alguns desses produtos anunciados na época
de ouro do rádio, deixaram de ser fabricados, outros ainda estão
por aí. Lembrei ainda do sabonete Eucalol, que
trazia figurinhas para colecionar. Do Sabonete Lifeboy,
Biscoitos Aymoré, Sabão em pó Rinso, Café Moinho de Ouro,
Sabonete Lever – o sabonete das estrelas de Hollywood,-Alka Seltzer e
outros e outros, que deixo para que vocês também viajarem no tempo.
Na época de ouro do Rádio, as emissoras mais ouvidas por aqui, sintonizadas em rádios das marcas Phillips, Mullard, Transglobe e mais pra frente o Motorádio, eram: Prc-5, Rádio Clube do Pará: Mayrink Veiga, Tupy e Rádio Globo.
Também se ouvia muito A Voz da América e a Rádio Nacional. Na Mayrink eu gostava de ouvir os programas humorísticos como do Edifício Balança, Balança, mais não cai e a Turma da Maré Mansa, que tinha o quadro O primo rico (Paulo Gracindo) e o primo pobre(Brandão Filho), não perdia um. Já na Tupy e na Globo eram as jornadas esportivas, ainda mais quando jogava o meio querido Fluminense.
E foi lembrando as jornadas esportivas que lembrei do principal patrocinador do futebol ; a Gillette Azul, que era assim decantada pelos narradores Waldir Amaral, Jorge Cury e outros menos votados: O tempo passa e a barba cresça e aí entrava o gingle que dizia assim: ALEGRIA, ALEGRIA, FAÇA A BARBA TODO DIA COM GILLETTE AZUL: ALEGRIA, ALEGRIA, FAÇA A BARBA TODO DIA COM GILLETTE MONO TEC (era um aparelho para barbear (parecendo um T, em que se rodava em baixo e abria duas abas em cima, onde era colocada a Gillette).
Pois é meus amigos, quando
vi o pacotinho da Gillete Blue Blade – com
as três lâminas de aço inoxidável , ainda intactas,
fui envolvido por uma áurea de saudade e não pude
satisfazer o pedido do dileto amigo. Afinal
de contas, como disse a conceituada jornalista
paulista Regiane Ritter: SÓ TEM SAUDADE, QUEM
FOI FELIZ. E eu fui feliz na minha
infância, na querida Favela.
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