sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Crônica do Sapiranga Milton Sapiranga Barbosa



Crônica do Sapiranga

Milton Sapiranga Barbosa


BLUE BLADE





Um amigo  de longa data, num bate papo  informal,  sugeriu que eu fizesse crônicas sobre  temas  variados.  Disse-lhe de imediato que  não iria atender seu  pedido, pois sempre que me deparo com  alguma coisa, fato ou objeto, que  lembre de minha  infância feliz, vivida no querido bairro da Favela, as lembranças afloram.

Quando me lembro  da Macapá  de antigamente, quando se podia dormir com as janelas abertas, escorar  a porta com um “mucho”, e andava-se  a qualquer hora, do  dia ou da noite, sem perigo de ser atacado por algum  desocupado. Quando  a maioria da população era compadre  e comadre, e mais importante, se  respeitavam, não  tem  jeito, o  coração aperta e a viagem no  túnel  do tempo da memória é  inevitável.
Se não vejamos. Outro  dia, estava eu num  papo molhado com  amigos, quando de repente me aparece um  cidadão, com uma caixa de Gillette nas  mãos, querendo trocar a dita cuja  por uma “bujudinha”, Caninha da Roça (água que passarinho não bebe).

Pronto, foi o bastante, viajei no tempo e entrei no templo da  saudade, como  vocês  lerão a seguir .

Na  época  de ouro  do rádio brasileiro, antes  de inventarem a televisão, internet e outras  geringonças eletrônicas, o rádio à  válvulas era o veículo que  o  povo brasileiro se servia para ouvir músicas  e se informar do que acontecia no Brasil  e no Mundo através dos noticiários.

Quem não se lembra do Repórter Esso (Rádio Nacional), na vibrante  voz  de Heron Domingues, que informava as mais importantes noticias do Brasil e do Mundo, como por exemplo: O Fim da  Segunda Guerra Mundial, a morte de  Getúlio Vargas, a  conquista do Brasil na Suécia, etc, etc… ?



Ao ver  aquele pacotinho de Gillette Blue  Blade, com a foto do seu inventor e seu impecável bigode, lembrei de alguns   famosos  gingles,  do  tempo  que publicidades  no  rádio eram  chamadas de “ reclames”. Quem  nasceu  na  década de 40, 50  e/ou 60, certamente  ainda  deve  se  lembrar de um  destes;
 Grapette, quem  bebe Grapette, repete; Pílulas de Vida  do Dr. Ross, fazem bem  ao  fígado de  todos  nós. Pequeninas, mas resolvem; e do Xarope São João: – Alô, quem  fala? r- É a tosse. – Aqui quem fala  é o Xarope São João! FUGIU Hein? – ~É  sempre  assim, falou São João, a tosse vai  embora na hora. E outro: do Leite em pó MOCOCA que  dizia; A vaquinha Mococa está  mugindo, muuuu. A vaquinha Mococa está dizendo: Beba leite  em pó Mococa.  do Talco  Ross: Passa , passa o  Talco Ross, quero ver passar. Passa, passa o Talco Ross  para refrescar: Tinha também: Pasta Dental Golgate, remove  todas  as cáries: Use Mitical que  acaba  com  as  coceiras- Melhoral, Melhoral, é melhor e não faz mal.  e do Flip Guaraná, ouvia-se um  barulho  de vidro se estilhaçando (presumidamente em copo caindo no chão), porque o locutor  dizia: Quebrou? Flip da outro!.Alguns  desses produtos anunciados na  época de ouro do rádio, deixaram de ser  fabricados, outros ainda  estão por  aí.  Lembrei  ainda  do sabonete Eucalol, que  trazia   figurinhas para colecionar.  Do Sabonete Lifeboy, Biscoitos  Aymoré,  Sabão em pó Rinso, Café  Moinho de Ouro, Sabonete Lever – o sabonete das  estrelas de Hollywood,-Alka Seltzer e outros e outros, que deixo para  que vocês também viajarem  no tempo.

Na  época de ouro do Rádio, as emissoras  mais  ouvidas  por  aqui, sintonizadas  em  rádios das marcas Phillips, Mullard, Transglobe e mais pra  frente o Motorádio,  eram: Prc-5, Rádio Clube do Pará: Mayrink Veiga, Tupy  e Rádio Globo.


Também  se ouvia muito A Voz da América e a Rádio Nacional. Na Mayrink  eu gostava de  ouvir  os  programas  humorísticos  como do  Edifício Balança, Balança, mais não cai   e a Turma da Maré Mansa,  que tinha o quadro O primo rico (Paulo Gracindo) e o primo pobre(Brandão Filho), não perdia um. Já  na  Tupy  e na Globo  eram   as  jornadas  esportivas, ainda mais  quando jogava  o  meio  querido  Fluminense.
E  foi  lembrando as  jornadas esportivas  que lembrei do principal  patrocinador do  futebol ;  a Gillette  Azul, que  era assim  decantada pelos  narradores  Waldir Amaral,  Jorge  Cury e outros menos  votados: O  tempo  passa  e a barba cresça e  aí  entrava  o  gingle que  dizia assim: ALEGRIA, ALEGRIA, FAÇA A BARBA TODO DIA  COM GILLETTE  AZUL:  ALEGRIA, ALEGRIA, FAÇA A BARBA TODO DIA COM GILLETTE MONO TEC (era um  aparelho  para  barbear (parecendo um T, em  que se  rodava em baixo  e abria  duas  abas em cima, onde era  colocada  a   Gillette).
Pois  é  meus amigos,  quando  vi o  pacotinho da Gillete  Blue Blade –  com   as  três  lâminas  de aço inoxidável , ainda  intactas, fui   envolvido por uma  áurea de saudade e não pude satisfazer  o  pedido  do  dileto  amigo. Afinal  de contas,  como disse  a   conceituada  jornalista paulista  Regiane  Ritter:  SÓ TEM  SAUDADE, QUEM  FOI   FELIZ. E  eu   fui feliz na minha  infância, na querida  Favela.


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