AGORA É TARDE
José Marques Jardim
Da Redação
Camilo Capiberibe, assumiu o governo do Amapá em 2010, se despede da
forma mais decadente. Ele foi o único gestor que não conseguiu ser reeleito na
esfera estadual, desde que a escolha do governador passou a ser pelo voto
direto da população.
Camilo foi derrotado
tendo a seu lado a máquina administrativa e todo seu poderio de fogo. Também
teve o apoio natural de outra máquina, a do município, disponibilizada pelo
prefeito Clécio Luís aliado de longa data. Na retaguarda teve os senadores
Randolfe Rodrigues, sensação de votos em 2010, por conta da “operação Mãos
Limpas” e o pai, João Capiberibe, que apesar da cassação por compra de votos,
tenta posar de “pai da moralidade”. A mãe, Janete, que também carrega no
currículo a cassação conseguiu se reeleger deputada federal, mas não mais com a
estrondosa porcentagem de votação de antes. Ela perdeu o posto para Roberto
Góes, do PDT.
Na disputa estadual,
Camilo foi derrotado pelo pedetista Waldez Góes, que em 2006 liquidou João
Capiberibe ainda no primeiro turno da disputa ao Setentrião. Passados oito
anos, Camilo experimenta o mesmo nocaute do pai, perdendo as eleições com uma
gigantesca diferença de votos.
Ele foi derrotado em
15, dos dezesseis municípios do Amapá em um processo que confirmou sua rejeição
desde o primeiro turno de acordo com as pesquisas tabuladas principalmente pelo
Ibope. Os resultados, no entanto, sempre foram rechaçados pelo governador que
buscava a reeleição, quanto por sua coordenação de campanha e militância.
Chegou a ter atribuída a ele uma postagem nas redes sociais incentivando a
desqualificação do instituto.
Apostou também na
desqualificação do principal opositor adotando uma estratégia de ataques
ininterruptos onde o mote foi a duvidosa operação da Polícia Federal deflagrada
em 2010 e que lhe colocou de presente as rédeas do Amapá nas mãos. Nas
inserções do horário político, as propostas sempre foram segundo plano.
Por outro lado, a
população deixava claro seu posicionamento de repulsa a ataques, o que foi
ignorado. O resultado do que ocorreria nas urnas foi se definindo a cada dia e
também deixado de lado pelo socialista que ignorou as massas.
Minutos após a derrota
maçante, o próprio Camilo reconheceu que governou afastado do povo, mas já era
tarde demais. O despertar para um contato com a realidade veio atrasado.
Cercado dos aliados naturais e da família reconheceu que estava na população, a
verdadeira força para recoloca-lo no poder, e não no poder que tinha.
O reconhecimento de um
dos principais motivos que o levaram à derrota faltou na hora do diálogo, por
exemplo, com três das principais categorias profissionais que fazem funcionar a
máquina pública; educadores, médicos e policiais. Com todos ele agiu com mãos
de ferro. Ignorou reivindicações dos professores judicializando as discussões e
aplicando multa ao sindicato da categoria. Ainda cortou o ponto de quem insistia
em participar do movimento. Muitos profissionais acabaram ficando sem salário
por conta da represália. Ano passado veio o pior. A regência de classe
garantida por lei foi incorporada ao salário no que os professores batizaram de
golpe e manobra para poder chegar ao piso da classe.
Ao protestarem na
Assembleia Legislativa foram retirados à força e espancados. O governador, a
partir de então, se negou a conversar sobre o assunto. Chegou a retirar R$ 4
milhões da Universidade Estadual para serem usados em propaganda com a qual
gastou nada menos que R$ 28 milhões.
Com os médicos não foi
diferente. A perseguição começou pelos plantões que foram cortados. Alguns profissionais
chegaram a ser levados a depor na polícia política criada na gestão de Camilo,
camuflada como Delegacia de Combate a Crimes de Corrupção, mas que só perseguiu
desafetos do governador. Em nível nacional, o caos na saúde foi mostrado várias
vezes em telejornais de repercussão, assim como os escândalos da falta de
licitação para aquisição de medicamentos e equipamentos.
A gestão de Camilo
optou pelos contratos emergenciais ignorando a Lei das Licitações e
concentrando as compras nas mãos de empresas “amigas”. A situação foi
denunciada várias vezes pelo Tribuna Amapaense. Com o passar do tempo, a
rotatividade de secretários foi acentuando outra crise paralela à educação.
Pelo menos seis secretários passaram pela Secretaria de Estado da Saúde. Maioria
acabou investigada.
Além dos secretários
investigados por condutas duvidosas na gestão da SESA, Camilo Capiberibe optou
por colocar condenados para ocupar os cargos, contrariando mais uma lei, a
Ficha Limpa. Na situação de condenados estão Lineu Facundes, Olinda Consuelo e
Jardel Nunes. Enquanto isso pacientes sofriam com a falta de exames nos
hospitais públicos e equipamentos quebrados que aumentavam o tempo de espera
nas filas. Também não encontravam medicações básicas.
O Tribunal de Contas da
União elaborou um relatório onde expôs um panorama da situação. Nele, tornou
público irregularidades como o superfaturamento. Em um dos casos, uma medicação
que custava R$ 48 era comprada pelo governo por R$ 1.900.
No trato com a polícia,
a gestão de Camilo não foi diferente. Investigações interrompidas por falta de
veículos, peças de reposição e combustível. Delegacias sem condições de
trabalho dificultava a ação de agentes e delegados. Dois Centros Integrados de
Operações em Segurança Pública (Ciospes) foram fechados. O único que permaneceu
em funcionamento foi o do bairro Pacoval. Mesmo assim, muitas ocorrências
deixaram de ser registradas por falta de papel.
O sindicato da
categoria redigiu e divulgou carta aberta detalhando a precariedade com farto
material fotográfico. Pouco tempo depois, delegados entregaram cargos que
tinham na gestão, em sinal de protesto.
Mas a rejeição do
governador foi acentua já a partir do segundo ano chegando a 80%. Ele foi
vaiado em vários eventos públicos e passou a evita-los mandando representantes.
Em meio a tanta turbulência inaugurou o asfaltamento de um ramal praticamente
sem movimentação de veículos e protagonizou aquela pode se transformaria em uma
das maiores gafes de seu governo, um busto dourado colocado no acesso do
Bacabinha foi a peça chave do evento e até hoje serve de piada em rodadas
populares. Para analistas políticos, Camilo foi um gestor mal assessorado que
teria preferido se cercar de bajuladores em vez de profissionais capacitados.
Isto explicaria a razão de tantas falhas.
A crise continuou ainda
mais agravada com as denúncias contra a esposa Cláuda Capiberibe, apontada por
assessores como mentora de um esquema de propina existente na gestão. Seria ela
que mantinha empresas prestadoras de serviços em troca de altas quantias. Tudo
denunciado em gravações de vídeo divulgadas em nível nacional. Frente a tantos
escândalos, a rejeição de Camilo se manteve até a eleição. Ele foi para o
segundo com uma desaprovação de 51%.
Depois da derrota de
domingo, 26 de outubro, Carlos Camilo Góes Capiberibe entra para a história
política do Amapá como o governador que não se reelegeu e ainda teve a maior
rejeição já enfrentada em uma gestão. O pai, João Alberto Capiberibe também
conseguiu um lugar na história como o primeiro senador do Brasil cassado por
compra de votos, ao lado da esposa Janete, que ainda tem satisfações a dar ao
Tribunal de Contas do Estado por irregularidades cometidas em 2001, segundo
auditoria do TCE. Os Capiberibe deixam mais uma vez sua digital na trajetória
do Amapá em uma página que o povo fez questão de virar para passar à frente.
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