Qual é a
sua arte?
Sim,
porque todos temos uma arte. Muitas vezes a arte das galerias nos leva a pensar
que a nossa própria arte não vale a pena. No entanto, fazemos arte, porque sem
arte é impossível resistir à dura sobrevivência.
E a nossa
arte não precisa sequer fazer sentido. A arte não nasce nem se consolida com a
pretensão de delimitar verdades, dizer verdades, ser uma verdade. A arte, ao
mesmo tempo que é técnica e empenho, transcende as coisas materiais, afirmáveis
e mensuráveis pela razão.
Você faz
arte, deve se perguntar sobre ela e, acima de tudo, esforçar-se por não
conferir a toda manifestação artística um papel secundário, terciário na sua
vida.
A arte
pode escrever, pintar, desenhar, rabiscar, pichar, compor, construir, decorar,
enfeitar, cantar, dançar, plantar, esculpir, recortar, colar, declamar,
maquiar, cozinhar... A arte pode ser tantas, tantas coisas. E pode ser até
mesmo aquilo que ainda não tem nome.
O senso
estético extrapola os próprios limites formais daquilo que se convencioniu
chamar "arte". A arte admite as convenções, sim, mas também ama a
quebra delas.
É curioso que, diante de um belo quadro, quase nunca nos perguntamos qual a função ou a utilidade dele. De certo modo, já aprendemos que um quadro, pragmaticamente, não tem função alguma, mas deve existir em si mesmo.
É curioso que, diante de um belo quadro, quase nunca nos perguntamos qual a função ou a utilidade dele. De certo modo, já aprendemos que um quadro, pragmaticamente, não tem função alguma, mas deve existir em si mesmo.
Alguns
podem até insistir: "Mas a função de um quadro é enfeitar!". Sim, mas
para que enfeitar? Para ficar belo. E o belo para quê? A razão não encontra
utilidade prática para isso.
Mas o belo é belo e, mais uma vez, sem ele não se vive. E a noção de belo pode e deve ser tão múltipla, pessoal e íntima quanto as noções da própria arte.
Mas o belo é belo e, mais uma vez, sem ele não se vive. E a noção de belo pode e deve ser tão múltipla, pessoal e íntima quanto as noções da própria arte.
Diante do
quadro, indiscutivelmente afirmamos: "É arte!". Mas, diante de tantas
outras coisas, ainda trepidamos: "Será que isso é arte?".
Diferentemente
da pintura, por exemplo, muito se tenta conferir à Literatura papel tão
fortemente social, panfletário, político, combativo, educativo..., que a
Literatura acaba se reduzindo a tantas outras coisas pretextuais, e muitos já
não a enxergam como aquilo que é: arte inteira.
Obviamente,
a Literatura pode ensinar, veicular ideias, ajudar a entender a sociedade. Mas
ela não é apenas uma ferramenta filosófica, sociológica, antropológica,
cultural. Ela supera.
Uma vez
sendo arte, assim como a arte pode muito bem nos ajudar a compreender o humano
e educar a nossa sensibilização através do senso estético, a arte se extrapola.
As funções envelhecem e a arte fica.
Por outro
lado, acreditar que a arte está encerrada em redomas de ouro e coberta pela
poeira sacra do tempo, empanturrada de honras pelos séculos é tolice.
A arte de
antes não anula a arte de agora, a arte que fazemos em casa, a arte dos nossos
tímidos versos, e dos nossos acanhados enfeites, e das nossas introvertidas
composições. O que você faz na sua vida é arte, mesmo que a imensidão da
arte feita antes de você o leve a temer a crítica.
Não tema
a crítica. A arte é como a própria vida: não precisa da aprovação do outro para
existir. Não deveria. Somos responsáveis por aquilo que fazemos e é preciso
romper as amarras e deixar que a arte supere o medo da opinião alheia. É arte
aquilo que dá sentido à vida, questionando, ao mesmo tempo, o sentido de todas
as coisas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário