quinta-feira, 18 de setembro de 2014

ANTENADOS

Qual é a sua arte?

Sim, porque todos temos uma arte. Muitas vezes a arte das galerias nos leva a pensar que a nossa própria arte não vale a pena. No entanto, fazemos arte, porque sem arte é impossível resistir à dura sobrevivência. 
E a nossa arte não precisa sequer fazer sentido. A arte não nasce nem se consolida com a pretensão de delimitar verdades, dizer verdades, ser uma verdade. A arte, ao mesmo tempo que é técnica e empenho, transcende as coisas materiais, afirmáveis e mensuráveis pela razão. 
Você faz arte, deve se perguntar sobre ela e, acima de tudo, esforçar-se por não conferir a toda manifestação artística um papel secundário, terciário na sua vida.
A arte pode escrever, pintar, desenhar, rabiscar, pichar, compor, construir, decorar, enfeitar, cantar, dançar, plantar, esculpir, recortar, colar, declamar, maquiar, cozinhar... A arte pode ser tantas, tantas coisas. E pode ser até mesmo aquilo que ainda não tem nome.
O senso estético extrapola os próprios limites formais daquilo que se convencioniu chamar "arte". A arte admite as convenções, sim, mas também ama a quebra delas.
É curioso que, diante de um belo quadro, quase nunca nos perguntamos qual a função ou a utilidade dele. De certo modo, já aprendemos que um quadro, pragmaticamente, não tem função alguma, mas deve existir em si mesmo. 
Alguns podem até insistir: "Mas a função de um quadro é enfeitar!". Sim, mas para que enfeitar? Para ficar belo. E o belo para quê? A razão não encontra utilidade prática para isso.
Mas o belo é belo e, mais uma vez, sem ele não se vive. E a noção de belo pode e deve ser tão múltipla, pessoal e íntima quanto as noções da própria arte. 
Diante do quadro, indiscutivelmente afirmamos: "É arte!". Mas, diante de tantas outras coisas, ainda trepidamos: "Será que isso é arte?".
Diferentemente da pintura, por exemplo, muito se tenta conferir à Literatura papel tão fortemente social, panfletário, político, combativo, educativo..., que a Literatura acaba se reduzindo a tantas outras coisas pretextuais, e muitos já não a enxergam como aquilo que é: arte inteira.
Obviamente, a Literatura pode ensinar, veicular ideias, ajudar a entender a sociedade. Mas ela não é apenas uma ferramenta filosófica, sociológica, antropológica, cultural. Ela supera. 
Uma vez sendo arte, assim como a arte pode muito bem nos ajudar a compreender o humano e educar a nossa sensibilização através do senso estético, a arte se extrapola. As funções envelhecem e a arte fica.
Por outro lado, acreditar que a arte está encerrada em redomas de ouro e coberta pela poeira sacra do tempo, empanturrada de honras pelos séculos é tolice. 
A arte de antes não anula a arte de agora, a arte que fazemos em casa, a arte dos nossos tímidos versos, e dos nossos acanhados enfeites, e das nossas introvertidas composições. O que você faz na sua vida é arte, mesmo que a imensidão da arte feita antes de você o leve a temer a crítica. 
Não tema a crítica. A arte é como a própria vida: não precisa da aprovação do outro para existir. Não deveria. Somos responsáveis por aquilo que fazemos e é preciso romper as amarras e deixar que a arte supere o medo da opinião alheia. É arte aquilo que dá sentido à vida, questionando, ao mesmo tempo, o sentido de todas as coisas.


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