quinta-feira, 31 de outubro de 2013

PIONEIRISMO







"O Amapá somente produz noticias ruins, a última foi essa tragédia do Perpetuo Socorro, os políticos tinham conhecimento dessa situação, pois eles foram lá pedir votos. 
Essa é minha indignação, muitas universidades começaram depois da nossa e estão sendo referência na região e a nossa patinando, quase sucateada"Cosme Esperidião do Nascimento Ramos, o funcionário mais antigo, em atividade, na UNIFAP.


Reinaldo Coelho
Da Reportagem

Esta semana a editoria do pioneirismo foi buscar um macapaense que tem na alma e na família o espírito de educador. Ele é Cosme Esperidião do Nascimento Ramos, formado em Artes de UFPA, no Núcleo de Educação implantado na década de 70 no Amapá e embrião da futura Universidade Federal do Amapá (UNIFAP). Cosme é considerado o servidor mais antigo em atividade a instituição e conhece a historia dessa universidade como ninguém.
Nascido em 18 de dezembro de 1955 - Macapá, ele é filho de Manoel Esperidião Ramos - Carpinteiro Naval do extinto Território Federal do Amapá - Estaleiro do Amapá, funcionava na Rua da Praia onde hoje é a Casa do Artesão e de Angelina do Nascimento Ramos e tem sete irmãos. Sendo seis homens e uma mulher.

Infância e adolescência 

Toda infância de Cosme passou-se no bairro do Laguinho, morador vizinho a sede do Grupo Escoteiro Veiga Cabral, onde passava maior parte. "Uma pessoa que colaborou e muito com minha educação e formação foi os saudosos Humberto Dias Santos e Clodoaldo Nascimento, chefes escoteiros. Atrás da sede tinha um campo de futebol que hoje é o SEBRAE onde aprendíamos a  jogar futebol. Ali mais perto tínhamos a residência do Mestre Oscar Santos aonde cheguei estudar musica. E tínhamos a LBA que ministrava cursos de funileiro, encadernação e outros... Atrás da Escola Industrial, funcionava a garagem do governo e onde a molecada pela curiosidade aprendeu mecânica automotiva, sem saber que aquilo lhes garantiria um futuro. Tínhamos assim lazer, aprendizado profissional e formação cívica para tornamos cidadãos de bem. E não era projetos de inclusão social, com verbas publicas era iniciativa de cidadãos de bem que queriam dar um futuro aos jovens amapaense".
Se olharmos um pouco para trás veremos que a nossa educação nos primórdios do Amapá era sábia. "Pois quando o jovem terminava o ensino de 2º Grau, automaticamente já estávamos absolvidos pelo mercado de trabalho, que naquela época era carente de mãos-de-obra. E quem disser que de 1979 para baixo fez concurso publico está mentindo, pois o governo aproveitava os que tinham alguma especialidade mínima".

Cosme conta que terminei seu primeiro grau em duas escolas Barão do Rio Branco e General Azevedo Costa e o curso de Secretariado no Colégio Comercial do Amapá. "Comecei a trabalhar no Núcleo de Educação da Universidade Federal do Pará (UFPA) em 1973, foi meu primeiro emprego e até hoje estou lá. Comecei como serviçal, mas fui crescendo e valorizado pelas administrações que ali passaram e cheguei até Técnico Administrativo, não passei a ser professor, porque gosto do que faça na administração. Mas cheguei a lecionar".

Acesso ao ensino superior

Era difícil o acesso dos jovens amapaenses ao curso superior, por que ele existia na vizinha Belém (PA) e as despesas eram grandes para manter um jovem durante cinco a sete anos na capital paraense. Porém os que foram não envergonharam esse rincão pátrio. Cosme conta que um dos baluartes para ajudá-los a acessar as faculdades paraenses foi o Professor João Brazão da Silva, que chegou a reitoria da UNIFAP. "Ele trabalhava o aluno para fazer o vestibular no Pará e todos os que freqüentavam o seu cursinho passavam de primeira. O Amapá vivia e respirava educação, tudo era voltado para as escolas e os alunos. Em 1969 a Rede Globo de Televisão veio ao Amapá filmar o desfile escolar de 13 de Setembro, na Avenida FAB, que as escolas levava para avenida uma aula de civismo e de conhecimentos gerais e isso repercutiram internacionalmente. Poucos se lembram disso".
Cosmo Ramos relembra dos professores daquela época que muitos deles sendo "leigos" ou "autodidatas", davam tudo de si para ajudar os alunos. "O então Diretor de Educação, Geraldo Leite de Moraes e junto com a Maria Sá, recém chegada de um curso superior, montaram um projeto, para a criação de um Curso de Licenciatura e o entregaram ao então governador Ivanhoé Gonçalves Martins que abraçou a causa e em parceria com a UFPA, foi instalado o Núcleo de Educação no Amapá. Era um curso de extensão da universidade paraense que nos beneficiou a todos os mestres".
A trajetória desse núcleo superior no Amapá teve diversos apoios e pessoas que se tornaram essencial para sua continuidade, um deles foi o Padre Jorge Bassille que cedeu salas do Seminário Diocesano de Macapá, ao lado da Igreja Jesus de Nazaré. "Foi no Seminário Diocesano que começou a ser formado o embrião da nossa UNIFAP. Ali se formou a primeira turma, que foi a de Matemática. Como o núcleo era para regularizar  os professores que já atuavam, outros cursos foram ministrados. Em seguida o núcleo foi transferido para Escola Tiradentes, sob o comando do professor Leonil Amanajás; uma negociação levou os cursos para o IETA e depois para a Escola Maternal (hoje Emilio Médici); em seguido fomos para o Barão do Rio Branco, sob a égide da pioneira professora Guita. Em 1979 é que fomos para o local definitivo, no entorno do Monumento Turístico Marco Zero onde funciona até hoje. Em março de 1991 as aspirações dos estudantes amapaense concretizava, com o apoio do senador José Sarney, foi autorizada a criação e instalação da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP), porém com reitores pró-tempores. Eles foram Maria Alves de Sá, José Brazão; Antonio Gomes e Paulo Guerra entre outros".

Família

Foram dois casamentos de Cosme Ramos. "Eu levei uma sorte muito grande no meu segundo matrimônio, durante uma visita ao Pará, conheci em 1992 a jovem Vânja Nunes Vasconcelos, que trouxe para Macapá e estamos casados a 23 anos. Tive sorte, pois ela é formada em magistério e aqui chegando fez concurso estadual e ingressou na rede de ensino do Amapá".


Cosme Ramos e a esposa Vanja

No primeiro matrimonio Cosme teve dois filhos uma filha que tem 23 anos e um rapaz que trabalha como projetista de construção e é artista plástico. E tenho mais dois filhos no casamento e atual e já é avô de uma menina de 1 ano e quatro meses".

O Amapá de hoje
"A partir do momento que o Amapá foi transformado em Estado e sou otimista, penso que foi para o melhor", analisa a Cosme Ramos a atual situação do Amapá. "Mais muitas das vezes foi para pior. Se formos ao fundo, ficamos tristes. Em 1996 foi criada a nossa universidade, juntamente foram criadas as de Roraima e de Rondônia, se for feito o balanço, a do Amapá está em ultimo lugar em numero de cursos. Rondônia tem 54 Cursos de Graduação; 10 Cursos de Mestrado e 01 Curso de Doutorado; Roraima tem 29 cursos de graduação, na pós-graduação, tem quatro cursos de mestrado: em Recursos Naturais, Geografia, Física e Química e registra 30 cursos de especialização e do Amapá tem 24 cursos. E o que está faltando é um compromisso dos nossos parlamentares, tanto estadual quanto federal com a nossa educação. Eles deixam muito a desejar. Não temos vontade política. Quanto passa uma emenda parlamentar para a UNIFAP tem que ser feito mídia, que é muito mais caras do que o valor recebido. O Amapá somente produz noticias ruins, a última foi essa tragédia do Perpetuo Socorro, os políticos tinham conhecimento dessa situação, pois eles foram lá pedir votos. Essa é minha indignação, muitas universidades começaram depois da nossa e estão sendo referência na região e a nossa patinando, quase sucateada".

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