sexta-feira, 21 de junho de 2013



"Fui um cara dedicado naquilo que eu fazia e fazia porque gostava. Eu não levava em conta o quando ia ganhar se fosse pouco, eu pegava meu chapéu e ia embora, mas não fazia serviço "porco", se eu aceitei o serviço tinha que fazer e bem feito. Se isso acontecesse agora o Amapá estaria bem diferente, o governador e prefeito tem que arregaçar a manga e ir trabalhar  e saber fazer, se não nunca vai melhorar, gabinete é para receber visitas a rua é para trabalhar". 

Lindoval Fonseca Perez - Engenheiro Civil





Reinaldo Coelho
Da Reportagem
O pioneiro dessa semana representa os desbravadores desse rincão amazônico e confirma a miscigenação do nosso povo. Lindoval Fonseca Perez, engenheiro civil é macapaense, nascido na Praça Veiga Cabral, onde a Macapá antiga começou, teve a honra de ser amparado no seu nascimento pela Mãe Luzia, parteira renomada e homenageada até hoje pelos amapaense. "O parto de meu nascimento, cumpriu todos os rituais da época, foi utilizado instrumentos rudimentares pela Mãe Luzia que me trouxe ao mundo".
Sua origem familiar vem do Marrocos, seu avô por parte de pai era de descendência hebráica e por parte de mãe, pernambucanos Martins Borges da Fonseca e Tereza Leite . "Temos uma grande mistura sanguínea, sou descendente hebráico, judeus, escravos, meu avô por parte de mãe foi escravo.  "Meus avós se encontraram aqui em Macapá e se casaram. Como a maioria dos da sua etnia era comerciante, assim como minha avó. Meu avô morreu cedo, porém minha avó Sime foi sócia da Alegria Alcolumbre, minha tia", relembra.
Meus pais eram macapaenses, aqui se casaram.  Abrão Perez e  Caetana da Fonseca Perez geraram dois filhos Lindoval Fonseca Perez - Engenheiro Civil e Lindaci Fonseca Perez, empresária. "Tive uma infância muito feliz, fiz meus estudos na Escola Barão do Rio Branco, estudei o ginasial no Colégio Amapaense. Fiz faculdade de Engenharia Civil em Belém (PA), me formei em 1968".
Ao retornar para Macapá, passei a trabalhar na Prefeitura de Macapá, na administração de Ubaldo Figueira, fiquei só seis anos, logo sem seguida fui trabalhar na ECIR, uma empresa de engenharia rodoviária. Em 1975 fui para o Departamento Nacional de Estradas e Rodagens (DNER), onde fui diretor. Depois fui para o governo do Território, desde a gestão do Genaral Ivanhoé Gonçalves Martins até Annibal Barcellos".

Atuação nas
rodovias amapaenses.

Lindoval Perez compôs com muitos desbravadores amazônicos na construção das rodovias amapaenses. As primeiras frentes de trabalho com homens, máquinas e equipamentos para abertura da BR-156 tiveram início na década de 40, no governo de Janary Nunes, onde procuravam superar  adversidades das mais diversas. Podemos dizer que Lindoval Perez  foi um herói desbravador. Nem mesmo a malária, bronquite e problemas intestinais advindos da água, poeira e lama fizeram este pioneiro bater lona.
O nosso pioneiro relembra  dos bons tempos da Divisão de Obras, dos pioneiros como Joaquim de Vilhena Neto, Amaury Farias, pessoas que muito contribuíram para a abertura da BR-156, para a consolidação da construção civil no Amapá.
"A BR 156 começou na Cachoeira de Santo Antonio, no Laranjal do Jarí e vinha até o KM 21, aí ela dobrava no sentido  do Oiapoque. A partir do Km11 ela passou a ser denominada BR 210 (antiga Perimetral Norte) ela vai no sentido  de Serra do Navio. Essa foi a que mais trabalhei e acompanhei sua construção. Também atuei nos primeiros asfaltamentos, que foi até Tracajatuba e fazendo alguns serviços de terraplanagem".
Perez destaca que ele foi um dos primeiros a chegar em Mazagão via estrada AP 020 e pegar sentido do Camaipi e vai se encontrar no Rio Preto com a BR 156, que chega até o Jarí depois ela deriva para esquerda e vai até Santo Antonio do Jarí. "As dificuldades que encontramos na execução dos serviços na  BR 156, eram equipamentos e começamos a adquirir os mais sofisticados. Na época tínhamos que eliminar as imensas ladeiras e o movimento de terra era muito volumoso, chegava a atingir 54 mil metros cúbicos por quilômetro e não tínhamos equipamentos a altura. Outro detalhe que o nosso serviço era de administração direta e servimos de exemplo para o DNR de Belém. A vantagem dessa atuação era que sempre sobrava recursos que eram aplicados em outros serviços. Quando o serviço é feito por empreiteiras ele se torna específico e não sobra nada para reaplicar. E tínhamos chance de investir. Um outro projeto encabeçado por mim foi a AP 070 que vai até o Pacuí".
Nos anos 80 e 90 o 8º Batalhão de Engenharia e Construção do Exército Brasileiro ficou à serviço do Amapá nos governos de Annibal Barcellos e Nova da Costa na atividade de manutenção da estrada, correção de trechos e serviços de corte de morros. "O BEC recebeu do DNER todos os equipamentos que tínhamos adquiridos e eles o destruíram. Quando nós saímos do DNER deixamos um laboratório de solos, fazíamos caracterização de material para terraplanagem. Desapareceu tudo, hoje não existe nada".

Família
O Lindoval Perez contraiu núpcias com advogada Célia Marques Perez há 43 anos, desse casamento nasceram três filhas: Lilia Cristina Perez, Juiz Federal; Viviane Marques Perez, Perita Criminal e Liani Marques Perez, Engenheira Eletricista atua em São Paulo. "Só tenho uma neta que é a Lia, xodó do vovô".

Amapá de hoje
Para Lindoval  a engenharia tem a tecnologia, mais o fundamento não muda. "Se você fizer uma obra sem uma boa base, dificilmente vai ter uma obra que dure".
O que Perez ver na atual administração amapaense é a deteorização dos valores. "Sai um administrador, o que assume não acaba as obras deixadas, por vaidade política. Temos que desfraldar só uma bandeira que a do Amapá. Não podemos ficar com picuinhas políticas, e é o que vem acontecendo hoje. Moro a 73 anos aqui. Um dia desses um carro baú trucado estaciona na frente da minha casa, que é uma ruela, ele quase arrebenta minha residência e nenhuma empresa de trânsito se posicionou nem o DETRAN  nem a CTMac, me revoltei e fiz um BO na polícia. Isso é incompetência de todos os órgãos públicos estaduais e municipais. É um absurdo o que está acontecendo nesta terra. Depois vieram pedir desculpas pois não tinham guincho".

Para ele Macapá está sofrendo com "uma politicagem sem vergonha que não está produzindo nada. Eles se apegam a coisa sem o menor valor. O que me revolta é com a Assembleia Legislativa, ele tem TV e Rádio e não fazem nada. Eles têm que fazer os serviços deles e não fazem. E eles não se contentam com o que recebem, querem mais. Aos jovens amapaenses, mesmo com a idade que tenho e com certa força para fazer mais pela minha terra. Alguns dizem que eu fui um bom engenheiro, e eu me digo: fui um cara dedicado naquilo que eu fazia e fazia porque gostava. Eu não levava em conta o quando ia ganhar, se fosse pouco, eu pegava meu chapéu e ia embora, mas não fazia serviço "porco", se eu aceitei o serviço tinha que fazer e bem feito. Se isso acontecesse agora o Amapá estaria bem diferente, o governador e prefeito tem que arregaçar a manga e ir trabalhar, e saber fazer, se não nunca vai melhorar gabinete é para receber visitas a rua é para trabalhar".

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