segunda-feira, 20 de agosto de 2012

50 anos de Copa do Mundo Marcílio Dias



por Dalton John
 
Seleção de Canadá, campeã de 2011, estreia
contra Gana para defender o título
Meio século de tradição, uma competição que durante todo esse tempo uniu o bairro do Trem em torno da paixão nacional, o futebol. A mobilização por parte de atletas, moradores e simpatizantes fez com que a Copa se tornasse mais do que um simples torneio de futebol, e sim, um movimento cultural em torno da bola.

De 1952 até hoje, as partidas, desde o tempo do Campo dos Escoteiros até a Praça Nossa Senhora da Conceição, mobilizam a população, que sempre está presente, e claro, torcendo pela sua seleção preferida. Uma competição democrática, em que Brasil e Espanha nem de longe são potências no campo de areia, tanto que a seleção que defenderá o título será o Canadá. Uma Copa em que o único pentacampeão é o Japão, merece todo o destaque de quem contempla.      

É muita história
Impossível relatar o passado da Copa sem citar dois personagens fundamentais. Um deles é José Maria Gomes Teixeira, o Manga. Um nome que já virou sinônimo da copa no bairro do Trem e na história da competição, e foi ele quem nos ajudou a compor esta reportagem, com todas as informações e imagens desses 50 anos de Copa do Mundo Marcílio Dias.

Outro ilustre personagem é o Biroba. O idealizador do torneio está marcado na memória de quem vai à arena, por causa de suas narrações históricas e irreverentes, que se tornaram uma atração a parte para os jogadores que estavam em campo. Hoje em dia, está afastado das narrações, mas é sempre lembrado por todo mundo nos dias de jogos. 

Manga, uma história viva da Copa
A primeira edição, ocorrida em 1952, teve como inspiração a Copa do Mundo que foi realizada no Chile, onde o Brasil se tornou bicampeão mundial após vencer a antiga Tchecoslováquia, com um elenco que tinha Djalma Santos, Vavá, Amarildo e Garrincha.  

"O Biroba naquele tempo era chefe dos escoteiros do Mar Marcílio Dias, e sua sede era localizada onde hoje é a escola Rondônia, no bairro do Trem. Ele tinha o objetivo de integrar ainda mais os jovens, e com o futebol, fazer com que ser um escoteiro se tornasse mais atraente. As primeiras edições foram nesse local. Joguei, mas não tive sucesso na posição de goleiro. Podia ser chamado de frangueiro, pois defendendo a Alemanha, perdi as três partidas da primeira fase", conta Manga.   

Seguindo o modelo da competição realizada pela FIFA, a Copa Marcílio Dias passou a ser realizada de quatro em quatro anos, e assim seguiu nas copas de 1966, 1970, 1974 e 1978. No ano seguinte, a partir da chegada do Comandante Barcellos, a competição passou a ser anual. Essa mudança também foi devido a pedidos dos jovens, que queriam ter mais oportunidade para jogar a Copa, pois naquele tempo era um celeiro de craques. 
"No local onde fica a Praça Nossa Senhora da Conceição, era um área de baixada. E o comandante, junto com o Coronel Homobono e o Rodolfo Juarez, que eram engenheiros, projetaram o local. E este foi o pontapé para que a Copa fosse realizada anualmente", afirma Manga.

Primeira Edição
Seguindo o modelo da edição realizada no Chile, a Copa Marcílio Dias número 1 contou com a participação de 16 seleções, que eram formadas pelos escoteiros e moradores do bairro. As equipes eram: Alemanha Ocidental, Argentina, Brasil, Bulgária, Chile, Colômbia, Espanha, França, Hungria, Inglaterra, Itália, Iugoslávia, México, Tchecoslováquia, União Soviética e Uruguai. Os jogos e o regulamento foram baseados no álbum de figurinhas, que é lançado em cada Copa do Mundo. Na edição de 1962, Manga afirmou que adquiriu o único exemplar, que era vendido na antiga livraria Zola, no centro da cidade.

No final, quem levou foi a França, comandada pelo ilustre radialista J. Ney, que na época foi o craque daquela seleção, que contava com garotos como Adalberto, Gilberto, Lelé, Pataca e Percival, os quais logo depois se tornaram jogadores nos grandes clubes da capital. No total, J. Ney marcou 23 gols naquela edição e acabou sendo o artilheiro.

Uma Copa sem Brasil
Isso mesmo, se na competição da FIFA a seleção canarinho jamais deixou de disputar um mundial, na Marcílio Dias o Brasil vai desfalcar a copa. Segundo Aluízio Augusto, coordenador técnico da competição, a seleção brasileira local, que é de domínio da Polícia Militar, afirmou que por questões de calendário não estará na edição de 2012. Uma seleção que faz o caminho contrário é a de Cuba, que passou 16 anos sem integrar a Copa, e retorna à competição. Além disso, 32 novos clubes estrearão neste ano.  

Em 2012, 153 seleções entrarão na arena da Praça Nossa Senhora da Conceição. E algumas não são da capital, pois é comum seleções formadas nos distritos e até em outros municípios participarem. Locais como Maruanum, Ilha Redonda, São Joaquim do Pacuí e da região da Pedreira sempre estão com suas seleções. Além das seleções masculinas, mais oito equipes femininas integrarão a Copa. A bola rolará de segunda à sábado, sempre a partir das 19h, com direito a três jogos por dia. 

As seleções foram divididas em 51 grupos, com três equipes em cada, que jogam entre si, sendo que a melhor de cada chave, e segunda melhor colocada passa para a segunda fase, e a partir daí o sistema será mata-mata e quem perder cai fora.  

Algumas regras peculiares serão mantidas para 2012:
  • A equipe que participa do desfile de abertura ganha um ponto na classificação de seu respectivo grupo;

  • Na primeira fase os jogos tem a duração de 40 minutos divididos em tempos de 20 minutos. Na semifinal o tempo aumenta para 50 minutos e na final para 60 minutos;

  • O jogador que chutar a bola para fora do espaço da Arena será punido com cartão amarelo, e o time adversário ganha escanteio;

  • Jogadores que participaram do Amapazão 2012 só participam mediante pagamento de taxa.

Um capítulo chamado Biroba
Para os mais novos, uma lenda, para os mais antigos, um ícone que se contrasta com a tradição da Copa Marcílio Dias. Biroba foi chefe escoteiro, boêmio, carnavalesco, desportista. De criador a figura carimbada dos jogos, Biroba se tornou um personagem marcante devido as suas narrações completamente diferentes que contagiavam todos e que se tornou marca da Copa. E algumas histórias que ficaram marcadas, Manga relembra com saudosismo. 

“’Chegou o circo americano! Mais buraco do que pano!’ Assim exclamou Biroba durante uma de suas narrações, quando a atração se instalou na praça, e parte do picadeiro adentrou a arena. O que fez os moradores do bairro não frequentarem o espetáculo, e consequentemente foi transferido para outra praça.
 
Certa vez, o Ministro do Interior da época, Mário Andreazza, estava em Macapá, e Biroba imaginou que fosse do interior do Estado, e então proferiu nos alto-falantes da praça: ‘Chegou o Ministro do Interior, inclusive do Igarapé do Lago’.   

 Quando viu uma mulher de saia, Biroba anunciou: ‘Lá vai na praça, uma  mulher sem calça!’ O que fez com que o marido da referida fosse tentar adentrar a cabine para tomar satisfações, porém foi acalmado pela população”. 

Eu joguei
J. Ney, Radialista
"Fui o primeiro artilheiro da Copa, e até hoje me sinto agraciado quando lembram meu nome durante os jogos. Naquele tempo, mesmo sendo um evento pequeno, movimentou a cidade, pois o bairro do Trem mantinha sua tradição de ser um bairro esportivo. Muito em função da paróquia que havia no bairro, e os times de futebol do Trem e do Ypiranga contribuíram para isso também. A minha equipe era formada por jogadores do Juventus, que era um clube em atividade na época. Deveria ter uma limitação de idade, para que ela revelasse craques e servisse como laboratório para os dirigentes dos clubes profissionais. Não que eu seja contra a participação de veteranos, muito pelo contrário, sou a favor, mas que fossem divididos em categorias para dar mais dinâmica ao campeonato".


Roberto Gato, Superintendente do Jornal Tribuna Amapaense
"Eu também tive o privilégio de disputar a Copa do Mundo Marcílio Dias. Na realidade os grandes jogadores, ou boa parte deles, desfilaram seu futebol nos campos da Praça Nossa Senhora da Conceição, não como atualmente está concebida, mas na sua forma original. Ela tinha vários campos e ali havia disputas de vários torneios simultâneos nas mais variadas faixas etárias.

Lembro-me do Biroba narrando assim: 'Lá vem a Escócia do bairro da CEA e lá vem o loirinho bom de bola'. Era eu. E aquilo enchia a gente de responsabilidade, pois o Trem, a favela e o Laguinho sempre rivalizaram em tudo, sempre existiu e existirá nos três bairros mais famosos de Macapá. A Copa do Mundo faz parte da minha biografia futebolística e dos meus melhores momentos como jogador de futebol. Sempre foi uma festa do esporte e evento de revelação de novos talentos. Uns deram certo e foram longe, outros nem tanto e claro, há aqueles que apesar do futebol vistoso e de boa técnica ficaram apenas na retina dos expectadores da Copa do Mundo Marcílio Dias. Quero aproveitar essa oportunidade para abraçar a todos que ao longo de meio século são os responsáveis pela longevidade e o sucesso deste evento esportivo amador, um dos maiores do País".

Um detalhe: Já fui considerado o craque da Copa. Isso é bom. Bem lá dentro do Trem. Chupa essa manga Roberto Foguetinho!".

2 comentários:

  1. Fui campeão pelo Japão na época quem comandava era o Saudoso Professor Expedito Cunha Ferro

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  2. Fomos no pelo Japão Jorginho Macapá Vicente Cruz Malafaia

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